A ex-namorada de Fábio Ribeiro, o "Barão da Pasteleira", contou esta manhã de quinta-feira, no Tribunal de São João Novo, no Porto, que diariamente lhe eram entregues quantias entre os 20 e os 40 mil euros da venda de estupefacientes.
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Rafaela, 30 anos, rejeitou ter qualquer papel ativo no tráfico de droga e voltou a garantir que apenas se limitava a receber e entregar dinheiro a partir da casa do ex-companheiro.
A arguida disse que “eram várias pessoas a fazer as entregas porque havia uma mudança constante de funcionários”, mas não soube precisar quantas entregas fez a “fornecedores”. Já as quantias que recebia na casa “variavam muito, entre 20 a 40 mil no total do dia”. Sabe porque algumas vezes contava o dinheiro para conferir a quantia.
Admitiu ainda que, a pedido de Fábio, deu dinheiro à companheira de um de três “funcionários” detidos numa rusga da PSP. O objetivo seria ela depositar o dinheiro na conta da cadeia dos três presos para verem que o chefe ia tomar conta deles.
Rafaela recusou-se a responder às questões do advogado de Fábio, Nélson Sousa, por “não se sentir confortável”, mas aceitou que as perguntas fossem feitas através da juíza. A magistrada quis saber se, uma vez que está mal com o ex-companheiro, as declarações seriam motivadas por esse mau-estar. A arguida garantiu que estava a dizer apenas a verdade, apesar de ter sido ameaçada durante a relação e já na cadeia de Custóias, nas visitas a Fábio, apontado como o líder do grupo.
“Fui ameaçada de que me tiravam a minha filha. Isto é a verdade. Eu tenho uma filha. Tenho 30 anos e nunca fiz nada de jeito na minha vida. Estou a fazer isto por ela”, assegurou Rafaela. “Sei que errei, sei que havia tráfico. Tentei sair, mas fiquei grávida e não tinha meios de subsistência”, explicou, lembrando que, mesmo depois de terminar a relação, ainda ficou mais um ano a residir com Fábio e que tem a correr um processo de violência doméstica contra ele.
Pagaram 350 euros para guardar cofre
Uma outra arguida, Renata, 27 anos, admitiu que errou e que está arrependida de ter cedido a casa para guardarem estupefacientes, mas explicou que “nunca teve acesso ao cofre”. Sabia que eram drogas porque, quando abriram o cofre, viu-as. Renata esclareceu ainda que a sua relação com João, que pernoitava algumas vezes em sua casa, não era de negócios, “era de namoro e estava no início”.
Renata contou que foi abordada por alguém no bairro para lhe guardarem um cofre na casa durante três dias. Não sabe o nome, mas sabe quem é se o vir. “Pagava-me 350 euros e adiantou-me 150 euros. Eu aceitei porque me faziam falta e nunca pensei que isto fosse acontecer, Foi a primeira e a última vez”, assegurou Renata.
Renata confirmou que, nas rusgas efetuadas a sua casa, foram encontrados três cofres: “um tinha o meu consentimento, outro, vazio, que foram lá pôr por abuso com o consentimento do meu tio, e um terceiro, do João, que tinha dinheiro do funeral do pai e algumas drogas”. Renata frisou ainda que, mal soube das buscas, se apresentou voluntariamente na polícia.
Ao todo, 37 arguidos, alegados elementos da rede "Pica Pau/Picolé", que operava a partir da Pasteleira Nova, estão a ser julgados de tráfico de droga. Cinco deles respondem ainda por associação criminosa, destacando-se Fábio Ribeiro, também conhecido por Crilim ou Barão da Pasteleira, que seria o líder da organização.