Era através da rede social Telegram" que um imigrante belga, cozinheiro de profissão, radicado no Porto, anunciava aos clientes as várias qualidades de resina ou folhas de canábis que tinha para vender. Cuidadosamente embalada em vácuo, a droga seguia para países europeus ou para Portugal, via CTT. O arguido, atualmente desempregado, vivia do esquema que foi desfeito pela Polícia Judiciária do Porto e vai ser julgado por tráfico de droga.
Corpo do artigo
Maxime D., de 31 anos, natural de Bruges, tinha uma vida discreta no Porto, para onde se mudou há alguns anos. Mas na Internet era conhecido como "Donyblaze", uma alcunha que lhe garantia o anonimato na rede social, onde criou uma loja virtual.
Para o encontrar, bastava colocar a palavra "canabis" no sistema de pesquisa para encontrar o seu perfil, com a fotografia de um "Joker". Na página, apresentava a canábis, com indicações sobre a resina, folhas e sumidades, além das variantes da planta.
"Depois de acertados os pormenores do negócio e o pagamento ao arguido, este procedia ao envio para Portugal ou para o estrangeiro, por via postal, das quantidades de canábis adquiridas pelos compradores", garante a acusação do Ministério Público (MP) a que o JN teve acesso.
Para evitar ser apanhado indicava moradas falsas no remetente. Por dez gramas de droga, "Donybalze" cobrava entre 50 e 70 euros e o cliente recebia comodamente a encomenda em casa.
Envio controlado pela PJ
Segundo o MP, em abril de 2021 o imigrante enviou uma remessa para um cliente luxemburguês da localidade de "Troisvierges" a partir de uma tabacaria do Bonfim, no Porto. O envelope almofadado foi intercetado pelas autoridades e continha mais de 50 gramas de resina de canábis.
Em maio, "Donyblaze" foi à estação dos CTT do Bonfim levantar uma encomenda. Nesse dia, já estava a ser monitorizado por inspetores da PJ que o detiveram na Praça Almeida Garrett. Levava cerca de cinco gramas de haxixe, dois sacos em plástico, um moinho com resíduos de droga e 15 folhas com autocolantes com a figura de um palhaço com uma folha de canábis, além de uma encomenda aberta remetida de Espanha contendo sacos herméticos com os dizeres "cannabis flowers" e autocolantes de várias cores, onde se lia "cannabis designer". Seriam usados nos envios.
A busca à casa do suspeito permitiu aos inspetores descobrir o centro logístico de preparação e distribuição. Havia envelopes almofadados dos CTT, correio verde, sacos próprios para embalar em vácuo, inúmeras filas contendo diversos autocolantes representativos da figura do "Joker".
Também foram encontradas lâmpadas específicas para estufas de canábis, moinhos, fertilizantes e droga.