Dono da empresa garante que nunca lhe foi dito que era para levar claque a Guimarães.
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Os cinco autocarros que transportaram ultras do Hajduk Split para Guimarães foram alugados por um benfiquista português a uma empresa de Santa Maria da Feira, sem referência de que se tratava de uma claque de futebol. "Um rapaz que conheço de um restaurante abordou-me para fazer o serviço. Queria um autocarro para levar uns amigos estrangeiros a dar uma volta até Guimarães. Passei o contacto ao nosso comercial, que tratou do aluguer", diz Gabriel Couto, administrador da empresa.
O empresário explicou ao JN que a empresa tem como política não alugar autocarros a claques, "porque não compensa" e que, nesse sentido, ainda perguntou se o serviço estava relacionado com futebol, ao que lhe foi dito que não.
Sobre o indivíduo que contratou o transporte, Gabriel Couto diz que sabe pouco, "apenas que é um rapaz que trabalha de sol a sol, cinco ou seis dias por semana e que às vezes pede uma folga para ir à Luz ver um jogo de futebol". Talvez por isso, por precaução, antes de dar andamento ao negócio, "fui à Internet verificar se o Benfica jogava, mas nem sequer era dia de jogo". "Todo o cuidado é pouco", sublinha.
"Levamo-los a Guimarães e tínhamos uma hora para os recolher. Os motoristas dizem que telefonaram a informar que iam voltar mais cedo porque os bares em Guimarães estavam fracos. Até começarem a chover pedras na autoestrada, nós não sabíamos no que estávamos metidos", lamenta.
"Os adeptos croatas acabaram por não nos fazer mal nenhum. Nem os autocarros sujaram. Já não posso dizer o mesmo de quem atirou pedras às viaturas, uma delas perfurou o para-brisas e passou a meio metro do motorista. Podia tê-lo matado", queixa-se. A transportadora avalia os danos em cinco mil euros, para substituir três para-brisas danificados, num serviço em que cobrou cerca de dois mil.
Versões diferentes sobre interceção na VCI
Depois de saírem de Guimarães, os autocarros da Torcida Split dirigiram-se ao Porto e foi já na VCI que a PSP os intercetou, identificando 122 croatas, 23 portugueses e nove indivíduos de outras nacionalidades. Gabriel Couto, da transportadora que alugou as viaturas, fala de um "cenário de guerra", em que os seus motoristas foram obrigados a fechar as portas das viaturas e a ficar no interior com os membros das claques
"Eram umas oito carrinhas da Polícia, rodearam-nos completamente", descreve Gabriel Couto, garantindo que apenas quatro dos cinco autocarros foram parados. O empresário alega que a PSP de Guimarães só soube da interceção depois de o contactar, pelas duas horas da madrugada.
A PSP nega as falhas de comunicação. "Foram intercetadas as cinco viaturas" e os envolvidos identificados. "Alguns são nossos velhos conhecidos", afirma um polícia, numa alusão a membros dos No Name Boys.
Quem são?
Os elementos que lançaram o pânico no centro de Guimarães, na noite de terça-feira, são membros da Torcida Split. Um grupo organizado - o mais antigo da Europa - de apoio ao Hajduk de Split, com filiais em vários outros países.
De onde vieram?
Segundo a PSP, muitos destes adeptos vieram da diáspora croata, nomeadamente de Espanha, Itália, Holanda e Alemanha. Esta é uma das razões pelas quais estes indivíduos não estariam referenciados pelos agentes da Polícia croata que também vieram a Portugal.
Como vieram?
A PSP afirma que todos os envolvidos nos desacatos entraram em Portugal em viaturas particulares e que "nenhum viajou de avião".
Onde ficaram?
Ainda de acordo com a Polícia, os adeptos croatas que estiveram na origem dos problemas na Cidade Berço não tinham, na sua maioria, alojamento marcado. "Os poucos que o tinham fizeram reservas em nome de portugueses".