Contrato de promessa de compra e venda foi financiado pelo alegado cúmplice do agente do futebol, Marco Carvalho, Industrial da metalurgia.
Corpo do artigo
Sem declarar IRS há pelo menos dez anos, César Boaventura foi viver para uma mansão de luxo em Barcelos, há cerca de três meses, sem que o seu nome aparecesse no negócio. O empresário de futebol, sujeito a prisão domiciliária na Operação Malapata, instalou-se na vivenda, avaliada em pelo menos 1,5 milhões de euros, apenas com a assinatura de um contrato-promessa de compra e venda e da prestação de um sinal, feitos através da empresa metalúrgica Falual, do alegado cúmplice Marco Carvalho, também detido pela Polícia Judiciária (PJ).
Este é outro negócio em que o nome de César Boaventura não aparece, mas de que, aparentemente, ele é beneficiário. As autoridades estão a passar a pente fino este contrato. Há cerca de três meses, o empresário de futebol - que foi detido na semana passada, por suspeitas de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento - mudou-se de uma vivenda de Esposende, onde pagava uma renda, para uma moradia de luxo em Barcelos.
Negócio por água abaixo
Os ainda proprietários terão acordado com o agente, mas também com o empresário Marco Carvalho, a assinatura de um contrato-promessa de compra e venda do imóvel com um sinal de 50 mil euros.
O negócio ficou em nome da Falual, a empresa da Trofa que também foi alvo de buscas na quarta-feira da semana passada, e terá sido o seu sócio-gerente, Marco Carvalho, a adiantar os 50 mil euros. O JN sabe que o contrato-promessa de compra e venda seria renovado nas próximas semanas, com a prestação de novo sinal.
Isso já não deverá acontecer, por causa da detenção dos dois indivíduos, e o negócio poderá ir por água abaixo. Assim, sem poder movimentar qualquer tipo de verbas e sem a ajuda financeira de Marco Carvalho, Boaventura deverá indicar outra morada para cumprir a prisão domiciliária que lhe foi decretada pelo Tribunal de Instrução Criminal do Porto.
O agente de futebol César Boaventura está no centro de um milionário esquema de branqueamento de capitais envolvendo Marco Carvalho e Ramiro Viana (ex-motorista do agente). Segundo as autoridades, terão sido movimentados cerca de 70 milhões de euros nos últimos anos. Os três foram detidos pela PJ e pela Direção de Finanças do Porto que fez buscas nos estádios do Benfica e Sporting, para recolher documentação sobre transferências de jogadores que Boaventura terá intermediado.
Comissões ocultas
Boaventura é suspeito de ter recebido comissões ocultas de transferências de atletas do Benfica e Sporting, através de empresas sediadas no estrangeiro e geridas por testas de ferro. As firmas geridas pelos alegados cúmplices em Portugal passariam faturas às empresas estrangeiras, o que permitia que o dinheiro fosse canalizado para Portugal. O esquema permitiria justificar transações milionárias, do estrangeiro para o território nacional, sem fazer soar os alarmes dos mecanismos bancários de vigilância e prevenção do branqueamento de capitais.
Insolvente manteve motorista a trabalhar
Boaventura, que não apresenta IRS há dez anos, foi declarado insolvente pelo Tribunal de Famalicão em 2014. Na altura, apurou-se que devia mais de 300 mil euros a credores, mas manteve Ramiro Viana, o seu motorista, a trabalhar durante essa época. O processo de insolvência do agente começou em 2009, quando uma funcionária do Grupo Marcatogest, SA, cuja maioria das quotas pertencia a Boaventura, reclamou uma dívida de 7680 euros. O Tribunal de Viana do Castelo condenou a imobiliária a pagar os créditos laborais, mas tal decisão nunca foi acatada. A funcionária processou então Boaventura, que acabou por ser declarado insolvente.
Pormenores
Cadeia de Custoias
César Boaventura está na ala de isolamento contra a covid-19 do Estabelecimento Prisional do Porto, em Custoias. Ainda não se transferiu para a prisão domiciliária.
Processo contra SLB
Boaventura meteu o Benfica em tribunal por reclamar uma comissão sobre a venda do atleta Nuno Tavares, apesar de nunca ter tido uma intervenção oficial no negócio, nem ter declarado nada ao Fisco.
Operação
A operação englobou a realização de 28 buscas nos concelhos de Barcelos, Braga, Esposende, Trofa, Vila Nova de Famalicão, Funchal, Benavente e Lisboa.