A investigação da Polícia Judiciária (PJ) e da Direção de Finanças (DF) do Porto que levou, em dezembro, à detenção de César Boaventura, suspeita que o agente de futebol tenha forjado saldos bancários milionários em contas sediadas no estrangeiro para burlar empresários. Estes supostos saldos serviriam de garantia para que as alegadas vítimas lhe entregassem dinheiro para investir em negócios do futebol. Em causa estará mais de meio milhão de euros.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN junto de fonte judicial, foram pelo menos dois os empresários que César Boaventura levou a investir em alegados negócios de transferências de jogadores. Um deles, Marco Carvalho, chegou a ser detido no âmbito da Operação Malapata, que investiga crimes de fraude fiscal, falsificação informática e branqueamento de capitais. Este empresário da Trofa terá sido convencido por Boaventura a investir dezenas de milhares de euros, sem ter obtido, até agora, qualquer retorno.
Os saldos bancários milionários que Boaventura assegurava ter no estrangeiro eram apresentados como uma espécie de garantia e o agente de futebol Marco Carvalho decidiu investir. Só deste engenheiro de formação Boaventura terá recebido, nos últimos anos, mais de 200 mil euros, provenientes de uma empresa de Marco Carvalho, sediada na Trofa.
Até agora, a investigação da PJ e do Fisco ainda não confirmou se, de facto, Boaventura tem contas milionárias no Reino Unido. Esta diligência já foi requisitada ao abrigo da cooperação internacional e os elementos já recolhidos indiciam que, afinal, o agente não terá ali guardada nenhuma fortuna pessoal.
lavagem de dinheiro
Porém, foram detetadas movimentações de avultadas verbas entre contas bancárias nacionais e outras sediadas no estrangeiro e foram essas transferências que levaram o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto a abrir um inquérito.
Existem suspeitas de que o agente de futebol esteja a branquear dinheiro para terceiros, ainda não identificados. Os referidos capitais saíam de Portugal para passar por diversos países e, finalmente, regressarem ao território nacional. São circuitos típicos em esquemas de branqueamento.
Próximo de Vieira
O agente de futebol é suspeito de ter recebido comissões de transferências de atletas do Benfica e Sporting, que não negociou diretamente, através de empresas sediadas no estrangeiro e geridas por testas de ferro. Tanto as direções do Benfica como do Sporting já vieram a público garantir serem alheios aos negócios de Boaventura, que tinha uma relação privilegiada com o antigo líder encarnado Luís Filipe Vieira.
Contactado pelo JN, o agente, que está atualmente em prisão domiciliária na zona de Samora Correia, disse não querer comentar a notícia, explicando que o caso está sob segredo de justiça.
Omite rendimentos ao Fisco há dez anos
César Boaventura não apresenta uma declaração de IRS em Portugal há cerca de dez anos, apesar de ostentar carros e viagens nas redes socais e aparecer na intermediação de transferências de jogadores. O agente foi declarado insolvente pelo Tribunal de Famalicão em 2014. Na altura, apurou-se que devia mais de 300 mil euros a bancos, à Segurança Social e às Finanças, mas também à EDP, à PT e à Vodafone. O processo de insolvência começou em 2009, quando uma funcionária do Grupo Marcatogest, SA, cuja maioria das quotas pertencia a Boaventura, reclamou uma dívida de 7680 euros.
Clubes colaboram
Tanto o Benfica como o Sporting foram alvo de buscas no âmbito da Operação Malapata. Foram recolhidos contratos de cerca de 15 transferências, em que Boaventura pode ter tido uma intervenção oculta. Os clubes colaboraram totalmente com as autoridades.
Processo contra SLB
Boaventura terá intentado uma ação judicial contra o Benfica para reclamar uma comissão sobre a venda do atleta Nuno Tavares ao Arsenal, apesar de nunca ter tido intervenção oficial no negócio, nem a ter declarado ao Fisco. A empresa inglesa pela qual trabalha reclama 800 mil euros ao clube.