Acabou por incriminar-se a ele próprio ao reclamar na Justiça comissão sobre transferência do defesa Nuno Tavares.
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O empresário de futebol César Boaventura, que está em prisão domiciliária no âmbito da "Operação Malapata", por fraude fiscal e branqueamento de capitais, entre outros crimes, incriminou-se a ele próprio ao intentar uma ação judicial contra o Benfica para reclamar uma comissão sobre a venda do atleta Nuno Tavares ao Arsenal, apesar de nunca ter tido intervenção oficial no negócio, nem a ter declarado ao Fisco.
O processo que intentou em nome pessoal contra o Benfica é considerado pelas autoridades como uma prova de que Boaventura era de facto o beneficiário de negócios realizados por intermediários com o Benfica e o Sporting. Nas 15 transferências escrutinadas, os clubes nunca pagaram diretamente qualquer comissão a César Boaventura, nem o nome dele aparece nos contratos. Por isso, as autoridades admitem que as direções dos clubes não soubessem que as comissões iam parar a contas movimentadas por Boaventura, no estrangeiro.
reclamou 800 mil euros
No caso da transferência de Nuno Tavares, o empresário reclamou 800 mil euros ao Benfica, o que representa 10%. Alega que conduziu o negócio e que o mesmo só foi possível graças à sua intervenção. O caso foi tornado público há dias, mas a transferência remonta às últimas semanas de presidência de Luís Filipe Vieira, antes de ser detido no âmbito da "Operação Cartão Vermelho" e demitir-se. A proximidade entre Vieira e Boaventura é conhecida, mas quando Rui Costa assumiu a liderança terá dado ordens para não ser pago o dinheiro reclamado pelo agente. E para as autoridades isso foi uma benesse, fornecendo provas adicionais para o caso.
A investigação da Polícia Judiciária (PJ) e da Direção de Finanças do Porto apurou movimentações bancárias de 70 milhões de euros, atribuídas a Boaventura, que não declara IRS em Portugal há cerca de dez anos. O empresário e os dois alegados cúmplices, Marco Carvalho e Ramiro Viana, foram detidos por crimes de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento. Só Boaventura ficou com uma medida privativa da liberdade no processo que conta com cerca de 20 arguidos.
Na quarta-feira, foram realizadas 28 buscas, incluindo nos estádios da Luz e de Alvalade. Tanto Benfica como Sporting já vieram a público garantir serem alheios ao caso.
O empresário de futebol é suspeito de receber comissões de transferências de atletas dos dois clubes através de empresas sediadas no estrangeiro, geridas por testas de ferro. Firmas dos dois alegados cúmplices passariam faturas às estrangeiras, o que permitia que o dinheiro fosse canalizado para Portugal sem fazer soar os alarmes dos mecanismos bancários de vigilância.
Pormenores
Branqueamento para terceiros
Os montantes movimentados por Boaventura no estrangeiro são muito superiores aos negócios que faz, pelo que é provável que esteja a branquear capitais para terceiros.
Investigação já detetou 70 milhões
A investigação da PJ e Direção de Finanças do Porto vai continuar no sentido de apurar quem são as pessoas a quem Boaventura estaria a lavar dinheiro. Para já, foram identificados movimentos financeiros de 70 milhões de euros.