As movimentações bancárias de dezenas de milhões de euros efetuadas por César Boaventura em contas estrangeiras e nacionais levam a investigação a suspeitar que o agente de futebol esteja a branquear dinheiro para terceiros, que ainda não foram identificados.
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Poderão ser outros empresários de futebol. Boaventura e os dois alegados cúmplices, Ramiro Viana e Marco Carvalho, foram ontem levados ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto. O agente de jogadores fica em prisão domiciliária, tendo sido conduzido à cadeia de Custoias, onde permanecerá até haver condições na sua residência. Os outros dois suspeitos saíram em liberdade. Há mais 20 arguidos no processo.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, a investigação da Polícia Judiciária (PJ) e da Direção de Finanças do Porto que apurou movimentações bancárias de 70 milhões de euros permitiu também detetar contas bancárias no estrangeiro, nomeadamente no Reino Unido. Apesar de não estarem no seu nome (são tituladas por empresas), os investigadores apuraram que quem movimenta essas contas bancárias é Boaventura. E como os valores envolvidos são largamente superiores aos montantes das transferências de jogadores supostamente negociadas pelo agente, através de outros empresários, existe a firme convicção de que Boaventura usa essas contas para fazer circular dinheiro que não é dele.
dinheiro pelo mundo
Ainda segundo apuramos, a investigação detetou movimentos bancários que saem de Portugal para passar por diversos países e, finalmente, regressarem ao território nacional. São circuitos típicos em esquemas de branqueamento de capitais.
Boaventura e os dois alegados cúmplices foram detidos anteontem, numa operação batizada "Malapata", que investiga crimes de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento. Foram realizadas 28 buscas nos estádios da Luz e de Alvalade, entre outros locais. Até agora, a investigação ainda não apurou qual o envolvimento dos clubes no esquema de Boaventura, mas tanto Benfica como Sporting já vieram a público garantir serem alheios ao caso.
O agente de futebol César Boaventura é suspeito de ter recebido comissões de transferências de atletas do Benfica e Sporting, que não negociou diretamente, através de empresas sediadas no estrangeiro e geridas por testas de ferro. As empresas geridas pelos cúmplices em Portugal passariam depois faturas às estrangeiras, justificando movimentos milionários do estrangeiro para o território nacional sem fazer soar os alarmes dos mecanismos bancários de vigilância e prevenção do branqueamento de capitais.
Mesma morada
As duas principais firmas na mira das autoridades são a FC&C e a Falual, que têm a mesma morada, na Trofa. Os gestores são os dois detidos, Marco Carvalho e Ramiro Viana, este amigo de longa data de Boaventura.
O agente não declara um cêntimo de rendimentos em Portugal desde há dez anos, apesar de ter residência em Esposende e ostentar carros, imóveis e viagens de luxo nas redes socais.
Num processo de insolvência de que foi alvo em 2014, uma juíza do Tribunal de Famalicão afirmou que pouco se sabia sobre a sua situação económica e rendimentos. Por esse motivo, ordenou à administradora de insolvência que esclareça "qual a atividade profissional", os "rendimentos" e "encargos fixos mensais" de Boaventura. Mas tal não foi possível porque a administradora de insolvência não conseguia contatá-lo.
Arguido é filho de ex-presidente do Trofense
Marco Carvalho, o proprietário da empresa metalomecânica Falual, na Trofa, que foi detido com César Boaventura, é filho de um antigo presidente do Trofense. Pelo que o JN apurou, este empresário teve um sério desentendimento com Boaventura, ontem de manhã, no Tribunal de Instrução Criminal.
Negócio indireto
Nem o Benfica nem o Sporting pagaram diretamente comissões a César Boaventura. Os clubes pagaram a outros agentes, que acabaram por transferir o dinheiro para contas controladas por Boaventura.
Buscas de Norte a Sul
A operação, batizada pela Polícia Judiciária como "Malapata", englobou a realização de 28 buscas nos concelhos de Barcelos, Braga, Esposende, Trofa, Famalicão, Funchal, Benavente e Lisboa.
Transações fictícias
As autoridades suspeitam que Boaventura simulou negócios com os cúmplices para lavar dinheiro.