A multiplicação das burlas com a aplicação de pagamentos MB Way, verificada durante os períodos de confinamento da pandemia e que abrandou em 2021, está de novo a disparar. No ano passado, registaram-se dez casos por dia, em média, contra sete no ano anterior. O aumento explica-se com o aparecimento de novos grupos criminosos, atraídos pelo lucro fácil e imediato, sem contacto com as vítimas. As baixas molduras penais também serão um fator sedutor para os burlões.
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De acordo com dados fornecidos ao JN pela Procuradoria-Geral da República (PGR), em 2019 registaram-se 923 inquéritos que passaram para 4946 no ano seguinte, quando as pessoas estavam aconselhadas a não sair de casa. Em 2021, chegaram ao Ministério Público (MP) 2766 investigações, mas em 2022 voltaram a disparar, para 3492 casos, com uma média de dez inquéritos diários a chegar aos vários órgãos de polícia criminal (OPC).
Proatividade das polícias
Foi a proatividade das polícias que permitiu baixar o número de vítimas em 2021, com os OPC a multiplicarem as operações de combate às burlas com MB Way, a nível nacional. Foram desmantelados vários grupos responsáveis por dezenas de casos.
Mas, de acordo com fontes policiais, há novos grupos que se formaram entretanto e estão a atuar. "É um crime que acaba por ter uma moldura penal baixa porque, isoladamente, cada crime nunca ultrapassa o valor de 5100 euros e, assim, os criminosos só arriscam penas de prisão até três anos, ou mesmo penas de multa", explicou ao JN fonte policial.
Só a partir de burlas envolvendo montantes acima de 5100 euros é que o crime passa a ser qualificado, podendo as penas chegar aos cinco anos de cadeia. Quando o valor ultrapassa os 20400 euros já podem ser sentenciados com penas até oito anos.
Na base dos diversos esquemas de embuste com MB Way está sempre o desconhecimento das vítimas relativamente ao funcionamento desta aplicação. Através de simples contactos telefónicos, os criminosos convencem as vítimas a associar os seus cartões bancários aos números de telemóvel fornecidos pelos burlões, que ficam com o controlo das contas e fazem movimentos com efeito imediato e sem possibilidade de serem revertidos.
DCIAP coordena
Embora os inquéritos sejam tratados nas diferentes comarcas do país, a coordenação nacional das investigações das burlas é centralizada no Departamento Central de Investigação e Ação Penal.
Nova aplicação
Além das burlas com o MB Way, as autoridades têm verificado novos esquemas com a utilização do MB Phone. É uma aplicação que permite efetuar no telemóvel algumas das operações que se fazem numa caixa multibanco.
Levantamentos
Há criminosos que passaram a levantar em caixas multibanco o dinheiro das contas das vítimas. Assim, evitam o método mais antigo que consistia em fazer transferências para contas bancárias que acabavam por ser rastreadas pelas autoridades.