Fotos de celebridades e anúncios falsos servem para promover "investimentos infalíveis" e produtos "milagrosos" nas redes sociais.
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Remédios milagrosos, dietas infalíveis e investimentos milionários. As promessas - falsas - são quase sempre as mesmas, mas os métodos têm-se modernizado. As redes sociais são terreno fértil para burlões, que usam a imagem de celebridades para ali promover esquemas fraudulentos. As autoridades fazem o que podem, mas tão depressa as páginas são fechadas como voltam a aparecer com outro nome.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) deixou o alerta no último relatório do Gabinete do Cibercrime: "Pululam" páginas falsas que "recorrem a massivas campanhas publicitárias na Internet, muito visíveis e ruidosas, com frequência usando abusivamente a imagem de figuras públicas".
Só no primeiro semestre deste ano chegaram ao Gabinete do Cibercrime 852 denúncias, mais do que em todo o ano de 2020 e 73,4% das de todo o ano passado. "Portanto, é de crer que, uma vez mais, no final do ano de 2022, os números das participações entradas superem em muitíssimo as do ano anterior", antecipava já a PGR.
O segundo fenómeno a gerar mais queixas junto do gabinete foram as burlas com criptomoedas e outros investimentos financeiros. O ator Carlos Areia, o jornalista João Fernando Ramos, o apresentador Manuel Luís Goucha e a cantora Aurea foram alguns dos famosos que viram a sua imagem ser usada abusivamente para promover este tipo de investimentos.
investimento infalível
"Caminho fácil da falência a milionário - "Oportunidade que ninguém devia perder", diz Carlos", o título surgia num anúncio publicado em massa nas redes sociais e era acompanhado de uma fotografia do ator Carlos Areia.
Através da ligação, chegava-se a um alegado site noticioso onde se lia: "Carlos Areia revela como ganhou 2,3 € Milhões após a falência. Ele diz que qualquer um pode fazê-lo e mostra como no Jornal 2!". Seguia-se uma suposta notícia onde Carlos Areia elogiava uma plataforma de investimento em bitcoins ao jornalista João Fernando Ramos.
Depois lia-se que o pivô experimentara e ficara "atónito" ao ver que, em apenas três minutos, os 250 euros que investira se tinham transformado em 483,18 euros. No fim da publicação, surgiam dezenas de comentários, aparentemente de cidadãos comuns a confirmar que o esquema funcionava e que também tinham ganhado muito dinheiro. Segundo a "notícia" quem quisesse lucrar só precisava de criar uma conta gratuita no site CryptoRevolt e depositar um mínimo de 250 euros. Porém, era tudo mentira.
Era Tudo mentira
Nem Carlos Areia, nem João Fernando Ramos alguma vez ouviram falar daquela plataforma, nem nunca consentiram em ceder a sua imagem para aquele efeito. Mal soube, Carlos usou as redes sociais para alertar que era uma mentira e pediu para que todos denunciassem. A publicação desapareceu pouco depois. Quem acreditou perdeu o dinheiro investido.
Além dos investimentos "infalíveis" em criptomoedas, outro dos iscos mais utilizados são os produtos para emagrecer. As atrizes Jéssica Athayde e Cláudia Vieira, a cantora Ágata e a popular apresentadora de televisão Cristina Ferreira são algumas das muitas celebridades que têm sido usadas por burlões para promover "milagrosos" comprimidos para emagrecer.
Recentemente, o médico Fernando Póvoas também foi usado numa fraude daquelas. "Uma das bebidas mais poderosas: Derrete a gordura! Como perder 5 kg de gordura da barriga", lia-se no anúncio a uma bebida dietética publicado no Facebook.
"Atenção, isto é falso", alertou o médico, também nas redes sociais. Num programa da SIC, contou que soube da fraude quando vítimas começaram a ligar para a sua clínica e a enviar mensagens nas redes sociais a queixar-se de que o produto não funcionava. "Muita gente acreditou, e passei por aldrabão", queixou-se Póvoas.
Investigações são difíceis quando sites desaparecem
Entre janeiro e junho deste ano, o Gabinete de Cibercrime recebeu 63 denúncias de pessoas que se queixaram de terem perdido avultadas quantias, que nalguns casos chegaram às dezenas de milhares de euros, em plataformas de criptomoedas. Na altura da queixa, a generalidade das plataformas já tinha deixado de estar online, não sendo possível recolher qualquer detalhe ou contacto que permitisse apurar o servidor da Internet onde a mesma estava alojada. Os queixosos, "invariavelmente, transferiram o seu dinheiro para pessoas que não conheciam, nem viram nunca, com quem apenas falaram por telefone, ou até apenas por mensagens escritas". Por estes motivos, só 13 das denúncias foram encaminhadas para inquérito, lamenta a PGR.
Influenciadores
Os burlões também usam a imagem de influenciadores digitais (os chamados "influencers", no inglês), que já costumam surgir nas redes sociais a promover produtos ou serviços. Assim, torna-se mais credível que essas personalidades se tenham associado aos artigos ou promoções em causa.
Marcas prestigiadas
Os burlões também copiam a imagem de marcas famosas, normalmente de vestuário, de artigos desportivos ou de calçado. Criam páginas "web" que imitam as oficiais e depois anunciam promoções muito atrativas, com descontos que chegam aos 80%. Exigem pagamentos antecipados com cartões de crédito, mas os produtos nunca são enviados. As páginas desaparecem poucos dias depois de serem lançadas.