Câmara de Lisboa perde recurso do processo "Russiagate" mas vai recorrer "até ao limite"
O Tribunal Central Administrativo Sul considerou "improcedente" o recurso da Câmara de Lisboa relativo à decisão de multar o município em cerca de um milhão de euros pela partilha de dados de ativistas russos, no processo conhecido como "Russiagate". A autarquia anunciou vai recorrer "até ao limite" para "proteger os contribuintes".
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A notícia avançada esta quarta-feira pelo "Diário de Notícias", e confirmada pela Lusa, é referente a uma decisão tomada na sexta-feira, na qual as juízas responsáveis referem que "a outra conclusão não pode chegar-se senão a de que o município de Lisboa agiu com dolo, uma vez que resulta demonstrado que as suas condutas são violadoras de deveres de natureza administrativa, e o município de Lisboa tinha consciência dessa violação".
Esta é a segunda derrota da Câmara Municipal de Lisboa na justiça no âmbito de uma multa de 1,25 milhões de euros, aplicada pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) à autarquia, em 2022, por violações do Regulamento Geral de Proteção de Dados ao "comunicar os dados pessoais dos promotores de manifestações a entidades terceiras".
A CNPD identificou na altura 225 contraordenações nas comunicações feitas pelo município no âmbito de manifestações, comícios ou desfiles.
Em reação, Carlos Moedas reconheceu que "os recursos vão-se esgotando", mas vincou que o seu "dever", enquanto autarca, é "continuar a defender aquilo que é a instituição" Câmara Municipal de Lisboa. "Tenho tentado defender aquilo que é o dinheiro dos contribuintes, recurso após recurso", disse Carlos Moedas à margem de uma visita ao quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa.
"É um tema que me deixou numa situação muito difícil, é um tema de um executivo anterior, que mostra, de facto, aquilo que não se fazia de bem nesse executivo", criticou Moedas, referindo-se ao anterior presidente da câmara, o socialista Fernando Medina.
"Os lisboetas não merecem estar a pagar quase um milhão de euros por um erro que foi cometido por um executivo anterior ao meu, portanto, vou manter essa posição de defesa", repetiu
A multa resultou de um processo aberto na sequência de uma participação que deu entrada na CNPD em 19 de março de 2021.
Em causa estava a comunicação à embaixada da Rússia em Portugal e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, pela autarquia portuguesa, de dados pessoais dos promotores de uma manifestação realizada junto à embaixada.
Os ativistas, dissidentes do regime russo, tinham realizado em janeiro de 2021 um protesto pela libertação do opositor do Governo russo Alexey Navalny, e argumentaram que a Câmara Municipal de Lisboa pôs em causa a sua segurança e a dos seus familiares na Rússia aquando da divulgação dos seus dados.
O valor inicial da multa aplicada ao município foi sendo reduzido, devido à prescrição de algumas contraordenações, sendo agora de 738 mil euros. De acordo com o Diário de Notícias, este valor corresponde à prática de 65 contraordenações.
A decisão tornada hoje pública é passível de recurso.
