O Fórum das Organizações Católicas para a Imigração e o Asilo (Forcim) criticou, em documento emitido esta sexta-feira, os discursos anti-imigração e contra o acolhimento de refugiados que foram feitos em reação ao duplo homicídio cometido por um refugiado afegão numa instituição da comunidade muçulmana em Lisboa.
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Em documento elaborado em 29 de março, um dia depois do ataque no Centro Ismaili, o conjunto das organizações católicas que compõem o Forcim entendeu ser seu "dever" manifestar a sua oposição a "discursos, comportamentos ou atitudes que fomentem o medo e a desconfiança, o xenofobismo e a discriminação".
"Lamentamos profundamente que, face ao choque, tristeza e dor do que sucedeu na manhã do dia 28 de março, palavras de ódio e de intolerância contra pessoas imigrantes ou refugiadas, ou afirmações infundadas e de incitamento à suspeição sobre quem escolhe Portugal como país de destino para procurar trabalho e melhores condições de vida, encontrem espaço e volume na arena pública", afirma o Fórum, que integra organizações como a Cáritas, a Comissão Nacional Justiça e Paz e a Liga Operária Católica.
O Forcim sublinha que "não são as políticas de imigração ou o dever de acolhimento dos refugiados que nos protegem de surtos psicóticos, nem estamos mais protegidos por procurar bodes expiatórios no desconhecido, sem justiça". "Buscar a verdade, justiça e misericórdia é o ADN do pensamento e do agir dos cristãos", afirma.
não são as políticas de imigração ou o dever de acolhimento dos refugiados que nos protegem de surtos psicóticos
A seguir ao ataque, o líder do Chega, André Ventura, defendeu que o ataque no centro ismaelita de Lisboa foi o "resultado" de uma alegada "política de portas abertas, de nenhum controlo", que diz existir em Portugal. Nesse sentido, André Ventura concluiu que "há responsabilidades, quer do Presidente da República, quer do Governo", uma vez que "patrocinaram estas receções [aos refugiados] durante os últimos anos".
Pelo diálogo inter-religioso
Salientando a "importância do diálogo inter-religioso para a paz" e enaltecendo a "intervenção social da Comunidade Ismaili", a Forcim começou por referir que "é chocante, triste e doloroso o momento que a comunidade Ismaili atravessa". "Solidariamente, estão com eles, todos os homens e mulheres de boa vontade, independentemente da religião", acredita.
O Fórum também elogiou "a prontidão e a eficiência com que a polícia agiu", numa alusão ao facto de um agente ter neutralizado o afegão Abdul Bashir, com tiros que o deixaram ferido, pouco depois do início do ataque.
O FORCIM integra a Capelania da Comunidade dos Africanos, Cáritas Portuguesa, Centro Padre Alves Correia, Comissão de Apoio à Vítima de Tráfico de Pessoas, Comissão Nacional Justiça e Paz, Comissão Justiça Paz e Ecologia, Coordenação Nacional da Capelania Greco-Católica Ucraniana de Rito Bizantino, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, Fundação Fé e Cooperação, JRS Portugal - Serviço Jesuíta aos Refugiados, Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, Rede Hispano Lusa de Mulheres Vítimas de Tráfico e Obra Católica Portuguesa de Migrações (coordenação).