Um docente de português foi o primeiro alvo de refugiado afegão no Centro Ismaelita, mas a coragem de um compatriota do atacante salvou-lhe a vida.
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O professor Diogo, residente na Amadora, foi o primeiro alvo do ataque de Abdul Bashir no Centro Ismaili, mas acabou por ser salvo pela intervenção de um aluno. "Pára com isso!", suplicou Samat, afegão de 40 anos, que entrou na sala de aula quando Abdul atacava Diogo, atingindo-o com uma faca no pescoço e no peito. Outros alunos fugiam da sala, mas Samat não se intimidou e, perante a sua aproximação, Abdul Bashir, de 28 anos, cessou o ataque e encostou a faca ao próprio pescoço, exigindo, aos gritos, que o compatriota se afastasse.
Diogo, professor de Português no Centro Ismaili, estava no chão a lutar pela vida e viu o atacante sair da sala, passando por Samat e dirigindo-se ao corredor, onde acabaria por matar duas mulheres. Diogo sobreviveu, tendo já tido alta do hospital.
"Tem pesadelos à noite"
Aquela sequência é contada por Nizam Mirzada, familiar de Samat e de outra colega de Abdul que estava na mesma sala onde decorria o ataque. "O Samat está bem, mas a minha irmã, que assistiu a tudo dentro da sala, está traumatizada. Tem pesadelos à noite. Na fuga, caiu nas escadas e tivemos que ir com ela ao hospital", conta Nizam Mirzada.
Terá sido no corredor que Abdul foi encarado por Farana Sadrudin, de 49 anos, e Mariana Jadaugy, de 24, trabalhadoras no centro. Apesar de ter uma atração por Mariana, Abdul acabou por matar ambas à facada e tentou atingir ainda uma terceira vítima, que se barricou numa sala, antes de ser travado por agentes da PSP que realizavam serviço gratificado na Loja do Cidadão ao lado do centro e que acorreram rapidamente ao centro.
Abdul Bashir foi atingido a tiro na perna e no escroto e está atualmente hospitalizado.
Funeral de Farana
Ontem à tarde, centenas de pessoas deslocaram-se ao Centro Ismaili, para velar o corpo de Farana Sadrudin, moçambicana naturalizada portuguesa trabalhava no Centro Ismaili em nome da Fundação Focus, na integração de refugiados afegãos em Portugal. O velório teve controlo policial à volta do Centro Ismaili, embora esteja afastada a hipótese de o ataque ter sido terrorista. O cortejo fúnebre seguiu até ao cemitério de Carnide.
O funeral de Mariana realiza-se hoje, em Belas, Sintra.