Operação policial desmantelou, em Pontevedra, Espanha, estrutura clandestina com capacidade para produzir 200 quilos de droga por dia. Máquina trituradora importada da Colômbia escondia 1,6 toneladas de pasta de base de coca. Detidas 18 pessoas.
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O Porto de Leixões foi a porta de entrada da cocaína que abasteceu o maior laboratório clandestino alguma vez descoberto na Europa. Pela infraestrutura portuária portuguesa chegou à Europa, oriunda da Colômbia, uma máquina trituradora de pedra que escondia mais de tonelada e meia de droga e era por aqui que chegariam outros três equipamentos semelhantes, com idêntica quantidade de pasta base de coca. A máquina foi importada por uma empresa portuguesa, recentemente comprada por um empresário do País Basco ao serviço de uma organização que juntou colombianos, mexicanos e espanhóis, num investimento de dois milhões de euros. O laboratório, instalado numa moradia da zona de Pontevedra, Galiza, podia produzir 200 quilos de cocaína por dia.
O empresário basco comprou em novembro passado a empresa portuguesa, com sede no Grande Porto, dedicada à importação de carros, mas sem grande atividade comercial. E a primeira decisão que tomou foi adquirir uma máquina trituradora de pedra, de grandes dimensões, na Colômbia. Como este país é conhecido mais pela produção de cocaína do que pela inovação tecnológica, a chegada do equipamento a Leixões levantou suspeitas à Polícia Judiciária (PJ) do Porto.
Ao longo dos três meses em que permaneceu em Portugal (primeiro no porto e depois num armazém da empresa que a encomendou), a máquina foi vistoriada, mas os inspetores nada viram de ilegal. Mesmo assim, a PJ deu conta das suas suspeitas à Polícia Nacional espanhola e ambas perceberam que a encomenda podia estar relacionada com uma investigação que, em Espanha, visava uma organização dedicada ao tráfico de cocaína.
Portugueses e espanhóis decidiram, então, acompanhar as viagens dos traficantes ao Porto e vigiar as reuniões que estes mantiveram com responsáveis do Porto de Leixões para tratar das questões logísticas. Os polícias dos dois lados da fronteira também seguiram a máquina trituradora quando esta foi transportada para uma vivenda construída num bosque de Pontevedra. Nessa altura, tudo se descobriu.
Traficantes detidos
Mais de tonelada e meia de pasta base de coca estava escondida em dois cilindros de metal e com dez centímetros de espessura da máquina trituradora. A droga abasteceu um laboratório que, nos últimos meses, foi montado clandestinamente por um sindicato do crime que juntou traficantes colombianos, mexicanos e espanhóis.
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Um investimento de dois milhões de euros dotou o local de avançados sistemas de extração de ar, sofisticados equipamentos de refrigeração e secagem de produtos químicos e geradores que permitiram transformar pasta de base de coca em cocaína em pó, pronta a consumir. O laboratório trabalhava 24 horas por dia, com seis "cozinheiros" recrutados na Colômbia, a dividir turnos ininterruptos, durante os quais eram produzidos 200 quilos de cocaína por dia. A Polícia Nacional espanhola não tem dúvidas em classificar este laboratório como o maior alguma vez sinalizado na Europa.
Numa operação realizada anteontem, que contou com a colaboração da PJ, a Polícia Nacional pôs um ponto final no esquema, detendo 18 pessoas (nenhuma é portuguesa) e detendo 1,3 toneladas de pasta de base de coca, 151 quilos de cocaína pronta a consumir e mais de 23 mil litros de produtos químicos usados no processo de transformação.
Estrutura
Tarefas divididas
A organização agora desmantelada era altamente sofisticada e estruturada. Os colombianos eram responsáveis por fornecer os "cozinheiros" para a preparação da cocaína e enviaram seis homens para Espanha. Os mexicanos também cederam um "engenheiro" e um "notário" especialistas na retirada da pasta de coca escondida na máquina trituradora. Aos espanhóis cabia o transporte da droga até Pontevedra, a montagem do laboratório e a distribuição da cocaína.
Carros batedores
A segurança era uma prioridade para a organização que, durante o transporte da droga e do equipamento para montar o laboratório, usava carros batedores e criava pontos de observação para detetar a presença da Polícia. A comunicação entre os diferentes membros do grupo era feita com aparelhos tecnologicamente evoluídos e com recursos a pseudónimos para que ninguém fosse identificado.
Casas de recuo
Nada nem ninguém viajava diretamente para a vivenda que escondia o laboratório. Produtos e pessoas passavam uma temporada em armazéns e casas de recuo, para que o grupo percebesse se estes estavam a ser vigiados pela Polícia. Aos "cozinheiros" colombianos também foram retirados os documentos e telemóveis.