Um homem de Barcelos declarou, esta sexta-feira, no Tribunal de Braga, que não matou a sua mãe, de 89 anos, ao contrário do que confessara, num café, logo a seguir ao crime, ocorrido a 25 de junho de 2022. Na fase de instrução do processo, a defesa pediu, sem êxito, que o arguido fosse declarado inimputável.
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No arranque do julgamento, o arguido, Fernando Almeida, de 51 anos, disse que encontrou a mãe já morta ao lado da cama, no quarto da casa onde ambos viviam, nas Carvalhas, em Barcelos, e que apenas pegou no corpo e o pôs em cima da cama.
Fernando Almeida também reconheceu que, a seguir, foi a um café da aldeia e disse aqui que tinha matado a mãe.
Interrogado pelo Ministério Público, Fernando Almeida negou ter telefonado à irmã a contar que tinha cometido aquele crime. Mas confirmou que, logo a seguir ao crime, tinha afirmado, no café, que fizera aquele telefonema.
Numa desconcertante tentativa de explicar aquela contradição, o arguido desculpou-se com um aparelho num ouvido, que lhe terá sido colocado, quando vivia em França, por um homem, com quem teve sexo, sem que ele próprio se apercebesse disso. Acrescentou que o aparelho faz com que ele ouça conversas de outras pessoas e estas o ouçam a ele, mesmo que não estejam no mesmo local: “Pensei que eles iam ouvir e dizer que fui eu, pelo que confessei. Mas não fui eu”.
O homem negou, ainda, uma das conclusões da acusação, segundo a qual teria discutido e batido na mãe antes de a asfixiar, por a mesma se insurgir com o consumo excessivo de álcool pelo filho.
Além de um crime de homicídio, a acusação também imputa um crime de violência doméstica ao arguido.
Na tentatativa de afastar responsabilidades, nesta primeira sessão do julgamento, Fernando Almeida também aludiu, sem concretizar, a pessoas que, habitualmente, rondavam a casa ou entravam sem ele saber.
A defesa de Fernando Almeida, que está em prisão preventiva em Braga, argumentou, durante a Instrução do processo, que não devia ser julgado por sofrer de doença psiquiátrica mas o juiz não atendeu o pedido.
“Morreu, fui eu que a matei"
A acusação diz que, no dia do crime, o arguido estava a beber vinho em casa. A mãe, Lucinda Ribeiro, ralhou-lhe, pedindo-lhe que parasse de beber, já que o fazia constantemente, ocasiões em que se tornava violento e a agredia.
A falecida chegou a queixar-se à GNR de que o filho queria dormir com ela na mesma cama, ao que não acedeu por ter medo de ser violada. Dois meses antes, Fernando Almeida tinha saído da prisão, onde a cumprir uma pena de seis anos e meio, por um crime, justamente, de violação, praticado em Vila do Conde.
Mãe e filho discutiram, ele deixou cair ao chão a garrafa e o copo, e começou a bater-lhe com um objeto, não identificado, na cabeça. Depolis, empurrou-a para cima da cama e asfixiou-a, descreve a acusação.
O MInistério Público conta ainda que, a seguir ao crime, o arguido ligou à irmã e disse: “Morreu, fui eu que a matei! E foi ao café dizer o mesmo: “a velha está morta. Vinde a nossa casa, ela está morta em cima da cama”.
Pouco depois, quando interrogado pela GNR e pela Polícia Judiciária, já desmentiu aquela versão.
Falou aos jornalistas
Já no dia seguinte, contou aos jornalistas, no local, que estava na cozinha, ouviu um barulho e supôs que a mãe estivesse a fugir, por, alegadamente, padecer da doença de Alzheimer: “Pensei: lá vai ela fugir outra vez. Fui ao quarto dela e não estava na cama, estava caída no chão e nua e morta. Peguei nela, pu-la em cima da cama”, disse.
Face à falta de indícios seguros de crime, a PJ optou, então, por não o deter, ficando a aguardar os resultados da perícia médico-forense.