Braga e Vitória, liderados por António Salvador e Miguel Pinto Lisboa, voltaram a ser alvos de buscas. Deco e Bruno Macedo também visados na Operação Fora de Jogo. Jorge Mendes é o principal arguido.
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É por suspeitarem da existência de sacos azuis nos negócios do futebol, envolvendo clubes, dirigentes, empresários, jogadores, advogados e testas de ferro, que as autoridades realizaram, na quarta-feira, novas buscas nas sedes do Braga e do Vitória Sport Club, em Guimarães, na Gestifute de Jorge Mendes e do ex-internacional Deco, hoje agente. O contrato de Raphinha é um dos principais alvos da operação, que fez mais cinco arguidos e procura provas de pagamentos feitos à margem do Fisco. Este inquérito versa sobre contratos de atletas alegadamente simulados ou inflacionados, no valor total de 15 milhões de euros, e nasceu da Operação Fora de Jogo, que investiga transferências de mais de 50 futebolistas, envolvendo 500 milhões de euros.
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As buscas de quarta-feira visaram a recolha de documentação sobre contratos de três jogadores: Raphinha, agenciado por Deco; Loum; e Galeno. Em causa estão suspeitas de fraude fiscal, fraude à Segurança Social e branqueamento de capitais.
Além do principal suspeito, o superagente Jorge Mendes, também Miguel Pinto Lisboa, presidente do Vitória, e Carlos Freitas, ex-diretor-geral de Futebol do clube, estiveram na mira das buscas, tal como os escritórios do empresário Bruno Macedo. Este é arguido no processo Cartão Vermelho, em que Luís Filipe Vieira foi detido, e também foi um dos alvos, no início desta semana, da operação que levou a Autoridade Tributária ao Estádio do Dragão e à casa de Pinto da Costa.
A investigação acredita que houve negócios simulados entre clubes de futebol e agentes "que tiveram em vista a ocultação de rendimentos do trabalho dependente, sujeitos a declaração e a retenção na fonte, em sede de IRS, envolvendo jogadores de futebol profissional", esclareceu o Departamento Central de Investigação e Ação Penal.
Contratos ocultos
Dirigentes, agentes e jogadores são suspeitos de montar um esquema de contratos paralelos, fora do controlo fiscal, com a prestação de serviços fictícios destinados a ocultar dinheiro. Entre transferências, comissões, contratos de trabalho e prémios, há 500 milhões de euros envolvidos.
Em março de 2020 já tinha sido organizada a maior operação de que há memória no Fisco e na Unidade de Ação Fiscal da GNR, sobre o futebol português. A Fora de Jogo conta com 134 arguidos. No topo dos clubes sob suspeita estão Benfica, F. C. Porto, Sporting, Braga, Vitória Sport Clube e Marítimo.
O esquema passará pela introdução de outros intervenientes nos negócios entre as SAD dos clubes, jogadores e agentes. São empresas, muitas vezes sediadas em paraísos fiscais e representadas por advogados ou por outra sociedade, que passam faturas de prestação de serviços fictícios de intermediação na compra e venda de jogadores. O objetivo será inflacionar os custos do negócio, diminuindo dessa forma o IVA e o IRC a pagar. Por outro lado, as empresas também ajudam a fazer "desaparecer" o dinheiro, aproveitando contas offshore, serviço que se estende a verbas pagas a agentes nas transferências.
Negócios em causa
Mamadou Loum/Braga-F. C. Porto
No início de 2018/19, o Braga emprestou o médio senegalês ao Moreirense e, a meio dessa temporada, o F. C. Porto contratou-o por 7,5 milhões de euros. Fez 23 jogos pelos dragões e, esta época, foi emprestado ao Alavés.
Wenderson Galeno/F. C. Porto-Braga
Os dragões contrataram o extremo brasileiro ao Grémio Anápolis em 2016/17. Após empréstimos ao Portimonense e Rio Ave, saiu em definitivo para o Braga em 2019/20, com os minhotos a pagaram 3,5M€.
Raphinha/V. Guimarães-S.C.P.
Depois de três épocas no Vitória, o agora internacional brasileiro foi transferido para o Sporting em 2018/19, por 6,5 milhões de euros. Após apenas uma época em Alvalade, Raphinha foi vendido aos franceses do Rennes por 21 milhões de euros.