Fábio Guerra não resistiu aos graves ferimentos na cabeça. Equipas integrando a Polícia Judiciária e a PSP procuram outros suspeitos.
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Fábio Guerra, o polícia agredido à porta da discoteca Mome, em Lisboa, não resistiu aos graves ferimentos sofridos e foi declarado morto na manhã de segunda-feira. Ao princípio da noite, a Polícia Judiciária (PJ), em estreita colaboração com a PSP, deteve os dois militares envolvidos nas agressões e um amigo destes, civil. São suspeitos de terem pontapeado a cabeça do polícia da esquadra de Alfragide, Amadora.
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Os dois fuzileiros foram detidos na base do Alfeite, em Almada, onde tinham sido retidos pela Marinha depois de terem revelado a sua participação nas agressões. No entanto, negaram a autoria dos golpes fatais, culpando um civil que os acompanhava. O terceiro elemento foi intercetado em Sesimbra pela PJ, que terá outros suspeitos na mira. Em causa estão os crimes de homicídio qualificado e ofensa à integridade física qualificada. Vão passar a noite na prisão militar de Tomar.
Faltavam poucos minutos para o meio-dia, quando a Direção Nacional da PSP confirmou a morte do jovem da Covilhã. "A PSP informa, com pesar e dor, que, na sequência das agressões de que foi vítima no dia 19 de março de 2022, em ação policial, o agente Fábio Guerra da PSP, faleceu pelas 9.58 horas, vítima das graves lesões cerebrais que sofreu", lia-se num comunicado.
No mesmo documento, a PSP garantia que "continuam em curso todas as diligências, em coordenação com a PJ, visando a identificação e detenção de todos os autores das agressões, que resultaram na morte" de Fábio Guerra. Fonte ligada ao processo explicou ao JN que a PSP integrou as equipas da PJ que investigaram o caso, juntando recursos para apurar como tudo sucedeu, na madrugada de sábado.
Isto porque as imagens de videovigilância da Discoteca Mome e dos estabelecimentos situados nas imediações mostram o início dos confrontos, mas não permitem ver como e por quem é que Fábio Guerra foi agredido.
A mesma fonte esclarece que a "prova testemunhal" será, neste contexto, fundamental para o apuramento dos factos que, para já, contam com duas versões.
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Versões distintas
Os cinco polícias agredidos, incluindo uma mulher, alegam que à saída do estabelecimento da Avenida 24 de Julho tentaram acabar com os confrontos entre dois grupos, à porta da discoteca, identificando-se como agentes da PSP. Mesmo assim, foram logo atacados por cerca de dez homens.
Os dois militares, que foram detidos por superiores hierárquicos, segundo as regras castrenses, contam outra história. Às chefias da Marinha admitiram o envolvimento nos confrontos, mas negaram terem pontapeado a cabeça de Fábio Guerra. Referiram que essa violenta agressão foi cometida por um amigo, que não é militar.
Acrescentaram ainda, contrariamente ao descrito pelos colegas de Fábio Guerra, que os agentes estavam à sua espera à porta da discoteca e que agiram em legítima defesa quando desferiram os murros e pontapés. Uma explicação que a investigação não descarta, mas à qual não atribui muito crédito.
Quem também desconfia desta justificação são os polícias da esquadra de Alfragide, que ficaram extremamente abalados com a morte de Fábio Guerra. Ontem, vários dos colegas do jovem agente não tiveram condições psicológicas para trabalhar e foram substituídos por polícias da esquadra vizinha da Damaia.
Perfil
Nome: Fábio Guerra
Idade: 26 anos
Naturalidade: Penedos Altos, Covilhã
Tinha duas irmãs, um delas sua gémea. Acabou o curso em 20 de maio de 2020, com média de 13,5, e foi colocado na esquadra de S. Brás, na Amadora. Mas como queria uma zona com mais ação, foi colocado na esquadra de Alfragide, em outubro do ano passado. Era sócio do Sporting Clube da Covilhã, que emitiu uma nota de pesar. Foi jogador de basquetebol no Clube Desportivo da Covilhã e árbitro de futsal.
Polícias mortos
Évora
Morreu atropelado
Em dezembro de 2020, o agente da PSP António José, de 45 anos, morreu atropelado quando, mesmo de folga, tentava socorrer uma mulher que era agredida pelo companheiro.
Aguiar da Beira
Tiro na cabeça
Em outubro de 2016, Carlos Caetano, da GNR, foi abatido com um tiro na cabeça por Pedro Dias, conhecido como "Piloto". O colega de patrulha, António Ferreira, também foi baleado, mas sobreviveu.
Setúbal
Abatidos a tiro
Um agente da PSP, de 52 anos, e um militar da GNR, de 25, foram assassinados a tiro, na Quinta do Conde, em 2015. O militar tinha sido chamado por causa dos disparos, que já tinham vitimado o polícia.
Pinhal Novo
Morto em sequestro
Bruno Chainho, de 27 anos, era militar da GNR do Posto do Pinhal Novo, em Palmela, em 2013, e havia sido destacado para um sequestro no restaurante "O Refúgio". Levou um tiro na cabeça, em 2013, disparado por um cidadão que esteve barricado sete horas.