Na última sessão de julgamento antes das alegações finais, dois dos sete arguidos acusados do homicídio na festa do título do F.C. Porto, Diogo Meireles ( conhecido por Xió) e Paulo Cardoso (Chanfra), afirmaram que não cometeram nem viram ser cometido nenhum crime contra Igor Silva, a vítima mortal.
Corpo do artigo
Está a chegar ao fim o julgamento, em primeira instância, de Marco "Orelhas", do filho Renato e de outros cinco arguidos, todos suspeitos da morte de Igor Silva, na madrugada de 8 de maio de 2022, quando milhares de pessoas se juntaram nas imediações do estádio do Dragão para comemorar a conquista do 30º. Campeonato de futebol pelo F. Clube do Porto.
No seguimento dos depoimentos anteriores de outros arguidos, ontem, Paulo Cardoso, o "Chanfra", também em prisão preventiva, contou ao tribunal a "sua" verdade. Cunhado de Marco "Orelhas" e tio de Renato, começou por dizer que às 5 horas da tarde do dia anterior, tinha recebido uma mensagem do "Orelhas" a contar da zaragata havida entre este e o Igor, no estádio da Luz, aquando do Benfica-Porto que daria o título ao clube da Invicta. Diz ter respondido com uma mensagem de "f... os cornos". E mais não ligou ao assunto.
Foi jantar, tomou "a medicação" e foi-se deitar. Por volta da "uma da manhã", foi despertado por um telefonema da cunhada, Marisa, mulher do Marco (e também arguida), a alertá-lo para o facto de a sua mulher e filhos estarem a "ser agredidos" pelo Igor na festa do Dragão. Ficou aflito, mas como "não tinha carro", não podia lá ir. Marisa mandou que esperasse, que o Marco iria buscá-lo, pouco depois. Afirmou que, quando chegou ao estádio, a sua preocupação eram os filhos. Viu a mulher, o filho e outros familiares, mas não vislumbrou filha, tendo a mulher dito que ficara para trás, mas não tinham sido agredidos pelo Igor.
No entanto, ficou preocupado com ausência da "menina" (com 17 anos) e correu à sua procura. Foi nessas andanças que se deparou com Igor ("juro que não conhecia") já por terra e cheio de sangue. Afirmou ter gritado para que chamassem o INEM, e que pediu às pessoas que rodeavam o moribundo que se afastassem do corpo "para ele poder respirar". Acrescentou que lhe pegou pelas pernas, acima dos joelhos, aparentemente para o reanimar, enquanto lhe perguntava: "Quem te fez isto?".
"Chanfra" foi várias vezes interrompido por alegadas contradições, sobretudo tendo em conta as suas declarações ao juiz de instrução, em que confessou ter-se atirado às pernas de Igor, para o derrubar. O arguido não desarmou, explicou eventuais contradições para o facto de "estar sob medicação" - "às vezes não sei o que digo, não me sei expressar", mas no caso concreto do que disse no primeiro interrogatório, diz tê-lo feito por indicação "do advogado que me nomearam", acrescentando que o mesmo lhe dissera que não haveria problemas". O seu depoimento não pareceu colher junto do coletivo.
De salientar que foi este arguido quem entregou, a pedido do próprio, Renato à PJ. "Perguntei ao pai e à mãe dele, mas disseram que não tinham coragem de entregar o filho", justificou.
"Eles que assumam"
Seguiu-se o depoimento de "Xió", o arguido Diogo Meireles, preso, mas à ordem de outro processo (alegados furtos). Garantiu que era amigo "tanto do Renato como do Igor" e que não participou na rixa, nem imaginava que pudesse ter tal desfecho. Sobre quem esfaqueou o Igor, não sabe. Mas saberá porque teve duas afirmações que poderão ajudar à convicção do tribunal. Lamentando a sua vida - "tenho um filho de sete anos que anda a ser tratado no psicólogo por causa disto, com que nada tenho a ver" - apontou nos vídeos registados na fatídica noite e que estão no processo, o seu percurso, que, na verdade, o afasta da zaragata. Terá até tentado impedir Renato de correr à procura de Igor.
Sob insistência do tribunal para que apontasse os autores das facadas, "Xió" negou saber as identidades, mas afirmou a sua "revolta", porque "eles não assumem o que fizeram", não deixando dúvidas de que "eles" eram arguidos que estavam na sala. E foi um pouco mais longe: "O Renato não está a ser meu amigo". Não explicou porquê.
As alegações finais terão lugar na próxima semana.