Embaixadora da Ucrânia: "Esperamos que haja mudança para que nunca se volte a repetir"
Irina Ohnivets, embaixadora da Ucrânia em Portugal, apela a que o julgamento da morte do imigrante seja justo e imparcial.
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A Embaixada da Ucrânia em Portugal tem esperança de que o processo de indemnização à família do falecido Ihor Homenyuk, morto por agressões quando estava à guarda do SEF, seja concluído com a maior celeridade. Em entrevista ao JN, a embaixadora, Irina Ohnivets, disse ter a convicção que Portugal está empenhado em realizar mudanças no SEF para que este caso nunca se volte a repetir e também apela a que haja um processo imparcial e justo.
Como vê os recentes acontecimentos em torno do assassinato do cidadão ucraniano no aeroporto?
A morte do cidadão ucraniano Ihor Homenyuk por factos ocorridos no espaço equiparado a Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, a 12 de março de 2020, é uma tragédia para família e para todos nós, porque é uma terrível violação dos direitos humanos. Para Portugal este acontecimento tornou-se um desafio, mas Portugal está a lidar com o assunto. O caso está a ser investigado judicialmente. As pessoas envolvidas foram acusadas. Neste contexto, a Embaixada da Ucrânia na República Portuguesa apela para que o processo na justiça seja realizado de foram imparcial e justa.
O procedimento do Governo português para com a Embaixada foi correto?
Como explicou o ministro da Administração Interna, existe "o compromisso institucional do Estado para o apuramento da verdade". Esperamos que haja mudança para garantir que esta situação nunca se volte a repetir. No dia 10 de dezembro, o Conselho de Ministros decidiu assumir, em nome do Estado, a responsabilidade pelo pagamento de uma indemnização. A Embaixada da Ucrânia tem esperança de que o processo de indemnização à família seja concluído com a maior celeridade.
Como é que o seu Governo viu este caso?
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, publicou o seguinte tweet: "Estava em contacto com meu colega português relativamente ao homicídio do nosso cidadão, Ihor Homenyuk, que aconteceu no mês de março. Insisti para que se fizesse justiça. Hoje, o Governo português decidiu indemnizar a viúva e os filhos. Espero que, baseando nos resultados da investigação, o tribunal aplique uma pena adequada a quem praticou este crime".
O que pensa da decisão de indemnizar já a família?
O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, entregou no dia 11 de dezembro uma carta para a viúva de Ihor Homenyuk, Oksana Homenyuk, onde dá conhecimento da decisão do Governo em pagar uma indemnização à família. Na mesma carta reforça as condolências. A Embaixada tem uma opinião favorável sobre esta decisão. Temos esperança de que o processo seja concluído brevemente.
Pensa que este caso pode prejudicar as relações entre ambos os países?
Estou convencida que este caso não prejudicará o nível de relações de amizade entre os nossos países. É evidente que a parte portuguesa está empenhada em promover a investigação e punição imparcial dos responsáveis por este crime.
Qual o estado atual das nossas relações de cooperação?
Temos um alto nível de relações bilaterais na esfera política. A Ucrânia agradece que Portugal apoie a integridade territorial e a soberania do nosso Estado, bem como a política de sanções da União Europeia contra a Rússia. A prova do desenvolvimento do diálogo político foi a visita oficial do ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, a Portugal, em setembro deste ano. Durante a visita, o ministro ucraniano manteve reuniões com o seu homólogo português, Augusto Santos Silva. Também estamos satisfeitos com o alto nível de cooperação na esfera comercial e económica. Neste contexto, consideramos a celebração da terceira reunião da Comissão Mista Ucraniano-Portuguesa para a Cooperação Económica, prevista para 2021, um importante evento nessa esfera.
As relações comerciais entre os dois países são boas?
A exportação de mercadorias ucranianas em 2019, em comparação com 2018, cresceu 14,2%, totalizando 282,17 milhões de dólares americanos. A importação de Portugal cresceu 21,5%, perfazendo um total de 74,84 milhões de dólares americanos. O saldo positivo é de 166,7 milhões.
Quantos imigrantes ucranianos há em Portugal?
De acordo com os dados do SEF, nos últimos anos verificou-se um aumento no número de estrangeiros que receberam visto de residência em Portugal. Em particular, os cidadãos da Ucrânia ocupam o quinto lugar das pessoas legalizadas. A comunidade ucraniana distribui-se por todo o país, tanto nas zonas urbanas, como nas zonas rurais, com uma forte concentração nos principais centros industriais e grandes cidades do país. Um pequeno número de ucranianos vive nas regiões autónomas dos Açores e na Madeira.
Como classificaria esta comunidade que aqui trabalha?
Os ucranianos em Portugal estabeleceram-se como uma comunidade trabalhadora e livre de conflitos, que foi bem recebida na sociedade portuguesa. A comunidade tornou-se uma força real que não apenas une os ucranianos, mas que também se manifesta cada vez mais ativamente na vida da comunidade ucraniana em Portugal, defendendo os seus direitos e interesses, garantindo as necessidades socioculturais dos compatriotas e zelando pela preservação da identidade nacional.