Estudante suspeito de querer matar professor e colegas pode ficar preso em Caxias se síndrome for provada.
Corpo do artigo
O estudante de 18 anos suspeito de planear um ataque em que visaria matar um professor e colegas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa deverá permanecer isolado sete dias no hospital prisão de Caxias, para onde foi transferido, provisoriamente, do Estabelecimento Prisional de Lisboa, onde deveria cumprir a medida de coação de prisão preventiva, depois de se ter manifestado "muito perturbado", na sexta-feira. A medida é comum a todos os presos recém-chegados, por causa da covid-19, mas João deverá ficar sob observação dos médicos do serviço de Psiquiatra.
À saída do tribunal, anteontem, o advogado do jovem, Jorge Pracana, considerou a medida de coação "ajustada", mas disse que ia recorrer. "Aguardo o envio de documentos que poderão ser úteis à reversão da decisão", afirmou. Embora não tenha clarificado qual o seu teor, tudo aponta para que se trate de documentos médicos a atestar que João terá autismo, o que poderia permitir que permaneça na prisão de Caxias.
"Pensei logo nisso", admite o neuropediatra Nuno Lobo Antunes. "A probabilidade de sofrer de Asperger é enorme", acredita, com base nas descrições feitas do jovem. Como o JN noticiou, segundo relatos do avô e de moradores de Lapa Furada, na Batalha, onde os pais residem, João manifestava problemas de socialização. "Sempre foi um rapaz reservado. Quando era criança, estava sempre metido em casa", garantiram.
A aparente timidez era alvo de gozo de outros miúdos. "A maioria das pessoas autistas são bondosas e incapazes de fazer mal a alguém", garante Lobo Antunes. "Na maior parte, até são vítimas de bullying", confirma, acrescentando que "alguns atos de agressividade resultam disso, mesmo que mais tardiamente".
Fernando Carreira, avô do estudante, atribuiu o isolamento de João a uma doença, cujo nome não soube dizer. "Se falarem para ele, mal compreendem. Ele tem aquele problema de falar", explicou. A utilização de "linguagem telegráfica e muita dificuldade no diálogo social" são outras características do autismo, segundo uma médica pediatra especialista na área, apesar de serem mais notórias nuns casos do que noutros.
Caso se confirme o diagnóstico, a médica defende que João não deve ficar na penitenciária de Lisboa por posse ilegal de armas e por suspeita de terrorismo, mas sim num hospital prisional. "Para um autista, estar numa prisão deve ser muito difícil de suportar e deve gerar ansiedade, devido à dificuldade de adaptação à mudança e à quebra de rotinas", confirma Nuno Lobo Antunes.
A fundamentação para a magistrada do Tribunal de Instrução Criminal decretar prisão preventiva a João baseou-se no perigo de continuação de atividade criminosa e no alarme social.
Carta
Ministro pede "integração saudável"
O ministro do Ensino Superior apelou a dirigentes de universidades e institutos politécnicos e de associações estudantis que "assumam uma posição ativa na integração saudável e solidária" dos alunos. "Qualquer tentativa de ataque a uma instituição de ensino é um ataque perpetuado ao futuro comum", defende, na missiva, Manuel Heitor.
Pormenores
Anunciou plano
O estudante de engenharia informática anunciou o seu plano online. Um internauta viu e denunciou-o ao FBI. A polícia federal dos EUA alertou as autoridades portuguesas.
Bombas artesanais
O jovem quereria atacar a Faculdade de Ciências de Lisboa com bombas artesanais, fabricadas com recurso a botijas de gás apreendidas pela PJ no seu quarto, num apartamento em Lisboa. Tinha ainda garrafas de gasolina, que seriam para cocktails molotov, uma besta e facas de grande dimensão.
Faculdade não parou
Apesar do sucedido, os exames agendados para ontem e anteontem não foram adiados. Vários alunos faltaram.