A Estrada Nacional 236, onde morreu a maioria das vítimas do incêndio de 17 de junho de 2017, em Pedrógão Grande, foi limpa nos dias 5, 6 e 7 desse mês.
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A garantia foi dada por Rogério Mota, responsável pela Assistência e Manutenção da Ascendi do Pinhal Interior, o único arguido interrogado esta sexta-feira de manhã, no Tribunal de Leiria, no âmbito da fase de instrução do processo respeitante às mortes no incêndio, que afetou ainda Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos.
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Rogério Mota esclareceu que a Ascendi tinha um contrato com a Vibeiras - Projetos e Obras de Arquitetura Paisagista, que previa a limpeza da vegetação herbácea, numa largura média de cinco metros, e o corte de árvores que pusessem em risco a segurança da via pública. Competia depois à Ascendi fiscalizar se o trabalho era cumprido diariamente, por intermédio do encarregado ou de operacionais de assistência e vigilância.
"Quando a Câmara de Pedrógão Grande queria cortar a vegetação, a engenheira Margarida [Gonçalves, responsável pela Proteção Civil] ligava com o encarregado, que geria as equipas. Assim se fazia normalmente no IC8", explicou Rogério Mota. "Todos os anos fazíamos cortes de vegetação nas zonas que eles diziam, mas a Câmara Municipal nunca nos falou nada sobre qualquer intervenção na EN 236", sublinhou.
Questionado pelo advogado José Ricardo Gonçalves, o arguido referiu que, após a limpeza da EN 236, nos dias 5, 6 e 7 de junho, a Infraestruturas de Portugal fiscalizou o local, "salvo erro", no dia seguinte. "Faziam visitas diárias na zona do Pinhal Interior e faziam relatórios periódicos", afirmou. O referente a essa data chegou à Ascendi a "20 e tal".
O responsável pela Assistência e Manutenção da Ascendi do Pinhal Interior confirmou ainda a existência de uma calendarização dos trabalhos nas redes viárias sob alçada da empresa, embora fossem feitas outras intervenções, sempre que entendessem necessário, devido a danos causados pela chuva, ao risco de queda de árvores, a ramos que estivessem caídos ou à existência de vegetação seca.
"Mês a mês, reuníamos e fazíamos um ponto de situação. Tentávamos respeitar o planeamento, mas se houvesse uma situação mais urgente fazíamos uma limpeza", sustentou o arguido. Em resposta a uma pergunta do juiz Gil Vicente, admitiu ainda que só abatiam as árvores "instáveis" se ameaçassem a segurança da circulação viária.
O incêndio que deflagrou a 17 de junho de 2017 na localidade de Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, provocou 66 mortos e 253 feridos, sete deles com gravidade, e destruiu cerca de 500 casas e 50 empresas dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco.
A instrução do processo relativo às mortes decorrentes do incêndio teve início na quinta-feira, com a inquirição de seis arguidos, e será retomada no dia 19.