Presidente da Assembleia Geral da Liga, arguido por tráfico de seres humanos, é também suspeito de reter descontos dos funcionários de escritório de contabilidade.
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Mário Costa, que se demitiu ontem do cargo de presidente da Assembleia Geral da Liga Portuguesa de Futebol, por ter sido constituído arguido no âmbito de uma investigação por tráfico de pessoas, também está a ser investigado pelo Ministério Público (MP) por fraude à Segurança Social (SS). O empresário é dono de um escritório de contabilidade, em Felgueiras, que é suspeito de fazer a retenção dos descontos para a SS, nos recibos de funcionários, e não entregar os valores ao Estado.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o processo já tem vários meses e começou após uma averiguação da unidade criminal da SS distrital do Porto à empresa de Felgueiras. O resultado seguiu para MP, que enquadra os factos como fraude à SS. Ainda segundo apurou o JN, o líder da AG da Liga será devedor de cerca de 250 mil euros.
Emigração ilegal
Além da empresa de contabilidade, Mário Costa também é sócio fundador da Bsports Academy, que está na mira do SEF por suspeitas de crimes de tráfico de pessoas, auxílio à emigração ilegal, falsidade informática e falsificação de documentos. O pai do dirigente da Liga, que é o gerente da Bsports´, também foi constituído arguido.
Em causa estão suspeitas de aliciamento de atletas estrangeiros, muitos deles menores oriundos da América do Sul, África e Ásia. Os jogadores eram trazidos para a academia situada em Riba d'Ave, Famalicão, mediante pagamentos mensais entre 500 e 1800 euros. Os pais dos atletas pagavam este valor para que os filhos tivessem boas condições de vida, quando, na realidade, os jogadores viviam em regime de quase reclusão. Os passaportes eram-lhes retirados e os seus movimentos eram controlados pelo staff da empresa. À noite, as vítimas eram fechadas a cadeado nas camaratas para não saírem das instalações.
Costa negou qualquer tipo de ilegalidade e garantir que será provada a sua inocência no inquérito por tráfico de pessoas. O JN tentou ontem contactar a advogada do ex-dirigente da Liga, para a questionar sobre as suspeitas de fraude, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.
Na operação de tráfico de pessoas, foram sinalizadas 47 vítimas, das quais 36 são menores e nove jovens adultos. Todos foram colocados sob proteção do Estado, com os menores a serem acolhidos em instituições. No total foram identificados 85 estrangeiros.
Governante promete legislação para travar flagelo do tráfico de pessoas
João Paulo Correia, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, veio ontem a público para pedir a demissão de Mário Costa da presidência da Mesa da Assembleia Geral da Liga. O que acabou por acontecer horas depois e foi oficializado num comunicado da Liga. Mas o governante foi mais longe e garantiu que vai apresentar um conjunto de propostas legislativas para fazer face ao que classificou com um "flagelo", referindo-se ao tráfico de seres humanos no desporto. "Considero que é inaceitável, chocante e condenável a situação que o SEF nos deu a conhecer publicamente, através de uma operação de tráfico de seres humanos numa academia", disse o secretário de Estado. Correia referiu que o Governo vai tomar "medidas de resposta imediata" e garantiu que, "no próximo Conselho Nacional do Desporto, o Governo irá apresentar um conjunto de propostas, algumas delas de caráter legislativo, para que se responda com força e com brevidade a um flagelo que teima em não abandonar o nosso território e mais concretamente o desporto".