Eduardo Montes, o filho do casal acusado de torturar a pequena Jéssica até à morte por uma dívida de 250 euros, negou esta terça-feira ter visto ou ouvido a menina na semana em que esta morreu. O homem, que responde perante o Tribunal de Setúbal por violação da criança para tráfico de droga, também recusou ter introduzido cocaína no ânus da menor para transportar o estupefaciente sem ter problemas com a Polícia.
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Jéssica, de três anos, esteve, entre 14 e 20 de junho de 2022, a sofrer na casa por baixo da sua, no Beco do Pinhanha. Mas Eduardo nunca deu conta dela e disse ter estado ausente entre 16 e 18, de férias com os seus filhos e mulher em Espanha.
O soalho de madeira e a fraca isolação entre as casas levaram o coletivo a insistir sobre se não ouviu mesmo nada, o que Eduardo reforçou. O arguido foi questionado sobre a tesoura, alicate e isqueiro que foram encontradas no bolso dum casaco no local do crime e que seria do pai dele, Justo Montes. Mas, tal como o pai, também disse desconhecer os objetos que foram armas do crime.
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Avó descuidada
Grande parte das declarações de Eduardo foi para esclarecer os juízes sobre a relação entre Inês, a mãe de Jéssica que responde por homicídio por omissão, e os seus pais, os principais arguidos. O coletivo também o questionou sobre as suas relações com os seus pais, Justo e Ana Cristina. "Nunca deixei os meus filhos com a minha mãe, sempre com o meu pai", disse. A declaração levou a que o Tribunal o questionasse sobre a possibilidade de Ana Cristina já ter maltratado os próprios netos. Respondeu que a mãe era descuidada e que os seus filhos queriam sempre estar com o avô Justo, não com a avó Cristina. "A minha mãe sempre foi desacertada e sempre foi com o meu pai com quem se sentiam bem".
Eduardo Montes contou ao tribunal que conhecia Inês Sanches de vista, por ser amiga, há quase dez anos, da mãe e irmã Esmeralda, que também responde por homicídio. "Vi a Inês umas três ou quatro vezes em casa da minha mãe", contou Eduardo Montes ao juiz presidente Pedro Godinho. Pouco depois, ao detalhar essa relação de amizade, contou que Inês ia à sua casa várias vezes.
Sobre a menina, disse que a viu uns meses antes em casa da mãe, uma única vez, quando espreitou para dentro. O juiz quis esclarecer a contradição. "Se conhecia Inês há tanto tempo de vista, se a via na casa da sua mãe, quando viu a menina meses antes, a sua mãe não lhe disse que se tratava da filha de Inês?", questionou. "Não sabia que a Inês tinha uma filha, nesse momento em que vi a menina, a minha mãe disse que era filha de uma amiga, não da Inês", respondeu Eduardo.
Pormenores
Lixívia para limpar
A casa onde Jéssica foi torturada até à morte foi lavada com lixívia antes de Justo, Cristina e Esmeralda saírem para Leiria, onde foram detidos. Andreia Fernandes, vizinha, disse em tribunal que Cristina lhe pediu lixívia no dia em que a menina morreu.
Diz-se vítima
Eduardo Montes alega que foi acusado de um crime que não cometeu: "Não consegui arranjar trabalho, tem sido terrível para mim, para a minha mulher e para os meus três filhos, que sofreram na escola também". "Passaram a olhar para mim como um monstro", disse.
Mais de 130 lesões
A autópsia de Jéssica revelou que a menor sofreu mais de 130 lesões. Só na cara tinha mais de 25.