O arguido Tiago Neves disse, esta quarta-feira, em tribunal que se deslocou à Academia do Sporting para "dar um aperto aos jogadores", de forma a "assustá-los", para que "percebessem que deviam ter dado mais em campo".
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"Queria ir lá dar uma espécie de aperto, mas nunca foi minha intenção agredir, era mais pedir justificações. A minha intenção nunca seria ir lá agredir jogadores, a minha intenção era assustá-los e fazer com que eles percebessem que deviam ter dado mais no campo, deviam ter ganhado", sustentou.
Tiago Neves, que vivia em Loulé e veio para Lisboa um dia antes da invasão para se encontrar com a namorada, admitiu ter acendido uma tocha no interior da academia, garantindo que não chegou a entrar no balneário da equipa. "Acendi a tocha e projetei-a para uma zona sem nada", afirmou o arguido, o segundo a falar em tribunal desde o início do processo, em novembro de 2019.
Confrontado com algumas mensagens enviadas via WhatsApp a incitar à violência sobre os jogadores - nomeadamente uma em que se leia "Amanhã, quero ir bater nos jogadores" - Tiago Neves afirmou que estas "eram mais bazófia do que outra coisa".
A juíza Sílvia Pires contrapôs a afirmação de Tiago Neves, referindo que o arguido "incentivou as hostes, incentivou a chamar mais malta, discutiu o ponto de encontro e aconselhou a que não saíssem dos carros ao mesmo tempo para não chamar a atenção." "Isto é muito sério, não é uma brincadeira de Carnaval, vocês não são acéfalos", declarou.
O arguido respondeu que ficou à porta do balneário, onde viu "Bas Dost caído no chão a ser ajudado por alguém do Sporting". "Dirigi-me às portas da ala profissional e acabei por entrar. Fiquei na zona de porta, talvez tenha dado uns passos para dentro, estava muito fumo e muita confusão lá dentro do balneário. Ouvi várias ofensas aos jogadores", disse, acrescentando que os únicos jogadores que viu, além do avançado holandês, foram William Carvalho e Rafael Leão.
O arguido, de 29 anos, que foi dos primeiros a entrar e dos últimos a sair da academia no dia 15 de maio de 2018, admitiu fazer parte do grupo de encapuzados filmados a correr para a academia no dia do ataque: "É tudo condenável, não me revejo nisto, não sei o que me passou pela cabeça na altura. Percebo que isto chocou o país. Isto, se calhar, era um vício que eu tinha, o Sporting e as claques."
O processo, que está a ser julgado no tribunal de Monsanto, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo. Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, Mustafá, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.