PSP desmantela rede que assaltava malas de passageiros e furtava mercadoria que aguardava nos armazéns de carga do Sá Carneiro.
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Aprendeu o truque no YouTube. Paulo M., funcionário da Groundforce há cerca de 30 anos, em serviço no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia, usava uma simples lapiseira BIC para abrir as malas que estava incumbido de manusear. Furtava o que lhe interessava, essencialmente peças em ouro e dinheiro, e voltava a fechá-las sem danos Nem o próprio saberá quantas abriu e o que roubou, mas terá sido o suficiente para ostentar sinais exteriores de riqueza que alertaram as autoridades.
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Paulo M. tinha uma carrinha BMW e uma moto da mesma marca que eram algo incompatíveis com os salários que a Groundforce lhe pagava a si e à mulher, também funcionária da empresa de "handling", pelo que o Ministério Público e a PSP começaram a investigar o suspeito.
Além disso, apurou o JN, os agentes que prestam serviço na esquadra da Divisão de Segurança Aeroportuária do Sá Carneiro já haviam elaborado diversas participações contra Paulo M., que, há alguns dias, tinha sido mesmo privado do cartão de acesso às áreas reservadas do aeroporto.
Recentemente, o sistema de videovigilância do aeroporto também foi melhorado. Mas, anteontem, após dois anos de diligências, a Divisão de Investigação Criminal da PSP, com a colaboração da Divisão de Segurança Aeroportuária, deu o golpe final na rede, identificando mais cinco homens, com idades compreendidas entre os 42 e os 59 anos.
Nem todos eram especialistas no truque da caneta BIC. Segundo a PSP, os suspeitos tanto furtavam objetos de bagagens dos passageiros, "como da carga proveniente da importação ou para a exportação". Roupa, calçado, equipamentos eletrónicos, ourivesaria, relojoaria e dinheiro faziam parte das escolhas dos ladrões.
Atacava depois das 17
Paulo M., considerado o cabecilha do grupo e conhecedor do funcionamento interno do aeroporto, costumava iniciar a atividade após a 17 horas, quando deixava de haver supervisão. Escolhia os contentores de bagagens mais pequenos e cuidava de permanecer fora da área coberta pelas câmaras de videovigilância.
O suspeito não imaginava que agentes da PSP, à civil, estivessem particularmente atentos, nos últimos meses, às áreas da aerogare onde ele se movimentava.
Da investigação resultou claro o protagonismo daquele funcionário e que alguns dos objetos furtados ficavam na posse dos arguidos. Os restantes eram vendidos, sendo o dinheiro assim obtido dividido por todos.
Bens recuperados
Anteontem, a PSP realizou 10 buscas domiciliárias e 18 não domiciliárias, na Maia, em Vila do Conde, Vila Nova de Gaia e Gondomar. Também revistou os cacifos dos funcionários no aeroporto. Nas buscas, foram recuperados equipamentos eletrónicos (computador portátil, computadores de secretária, tablets, repetidores de sinal, telemóveis e colunas de som), relógios, artigos de vestuário, mochilas e malas. Também foram apreendidos 3150 euros em dinheiro, moeda estrangeira e documentação com interesse para a investigação.
Pormenores
Malas com droga
Em janeiro deste ano, a Polícia Judiciária deteve dois funcionários de limpeza do Aeroporto de Lisboa. Tinham 30 e 38 anos e a sua função era retirarem de aviões malas com droga, processando-as como se fossem lixo. Foram apreendidos 32,8 quilos de cocaína. Ficaram ambos em prisão preventiva.
50 mil euros
O Ministério Público acusou, em maio passado, dois funcionários do Aeroporto Francisco Sá Carneiro que terão recebido mais de 50 mil euros cada um para facilitar a saída de cocaína da aerogare, em outubro do ano passado. Foram apreendidos 43 quilos de cocaína, avaliados em mais de 1,35 milhões de euros.
Funcionários da AT
A PSP deteve, em junho de 2020, 14 funcionários da Autoridade Tributária ligados ao Aeroporto de Lisboa. Facilitavam a entrega e chegada de objetos que eram retidos, dados como perdidos e não eram reclamados. Os artigos eram posteriormente revendidos ou usados em benefício próprio.
Furtou vinho
Um funcionário do Aeroporto de Lisboa, com 31 anos, foi constituído arguido, em janeiro deste ano, por ter furtado quatro garrafas de vinho de marca do interior de um avião que estava a limpar. Foi-lhe imediatamente retirado o cartão de acesso a zonas reservadas do aeroporto.