A GNR de Samora Correia esteve em casa do casal de idosos, residente naquela localidade, cerca de 20 minutos antes de ter sido alvo de tentativa de homicídio por parte da filha. A declaração foi prestada, esta quarta-feira, ao coletivo de juízes do Tribunal de Santarém por Bruno Gomes, à data militar desse posto.
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Bruno Gomes disse que, dias antes do crime, houve uma ocorrência de violência doméstica e foi levantado um auto de notícia pela GNR e atribuído o estatuto de vítima aos pais. À data do crime, ocorrido em outubro de 2022, o agente deslocou-se à residência da família, para interrogar os pais, onde também se encontrava a arguida. “Estava inquieta, a perguntar para o que era aquilo e o que é que tinha feito”.
Embora tenha garantido que “as vítimas estavam calmas” e que nada fazia adivinhar o que ia acontecer, a testemunha disse que, passados cerca de 20 minutos, a GNR foi chamada ao local. “Quando entrámos no prédio, está o senhor Carlos [pai] na cadeira de rodas, com várias perfurações nas costas e uma poça de sangue junto a ele.”
“A senhora [mãe] estava deitada no chão do quarto, na posição fetal”, contou Bruno Gomes. “Tinha uma toalha a fazer compressão numa hemorragia nas costas, onde tinha perfurações”, acrescentou. A arguida, Tânia Ferrinho, de 42 anos, estava fechada dentro do quarto e só quando ameaçaram arrombar a porta é que a abriu e se entregou. “Não disse nada. Mesmo no posto, passado horas, a única coisa que dizia era que lhe doía a cabeça.”
Afonso Garcia, agente da GNR de Samora Correia, também esteve nesse dia na residência de Carlos e Maria Cristina, ambos então com 77 anos, devido a uma denúncia de suspeita de violência doméstica. E relatou que os pais da arguida disseram que tinham tido uma discussão com Tânia, por ela “não ajudar em casa e gastar o dinheiro todo que eles tinham”. Nessa ocasião, disse que a arguida estava dentro do quarto e “não queria sair para não falar com os pais”.
Em resposta a Maria João Alves, advogada de defesa, Afonso Garcia confirmou que os pais estavam “transtornados” com a situação, mas Tânia não estava com um comportamento agressivo. “A mãe disse que levou um soco na cabeça, mas eu não observei nenhum hematoma”, disse o militar da GNR. “A Tânia referiu que eram as discussões de sempre e que queriam que ela saísse de casa, mas ela não saía porque a casa era dela.” Adiantou ainda que já “havia um processo relativo a 2020, por gastar o dinheiro dos pais”.
Vizinho assistiu
Embora as discussões entre os vizinhos do rés-do-chão fossem recorrentes, Paulo Pereira, formador, que morava mesmo por cima, foi averiguar o que se passava. “Quando estava a sair para ir bater à porta, fiquei a ouvir na escada. De repente, abrem a porta e começo a ouvir o senhor a gritar e vejo a Tânia a esfaquear o pai. Ele estava de costas para ela, mas depois virou-se”, contou. “Comecei a gritar, mas foi completamente indiferente, porque ela continuou a agressão, sem dizer nada.”
Paulo Pereira referiu que o ato de violência só parou quando apareceu um vizinho com um taco de basebol e mandou a arguida ir para dentro. “A Tânia foi para o quarto. Quando entrámos, era uma poça de sangue. Ouvimos a mãe deitada debaixo da cama, para se proteger, a pedir ajuda. O senhor estava a tentar estagnar o sangue”, recordou. “Muitas vezes, acabava por chamar a GNR, pois as discussões eram frequentes de noite ou de madrugada”, revelou.
Tânia Ferrinho começou hoje a ser julgada pelos crimes de homicídio qualificado pela morte do pai e por homicídio qualificado na forma tentada por também ter esfaqueado a mãe. Após os crimes, ambos estiveram internados no Hospital de Vila Franca de Xira, que pede uma indeminização superior a 57 mil euros. Carlos Ferrinho faleceu dois meses depois de ter ficado internado nos cuidados intensivos, e Maria Cristina em janeiro.