Grupo Fortera queixa-se de ex-autarca de Espinho: "Havia sempre mais obstáculos"
O líder do Grupo Fortera, que terá sido lesado com o alegado esquema de corrupção em Espinho que envolve a Câmara local e o Grupo Pessegueiro, diz que as suspeitas do Ministério Público "são um autêntico choque", mas, a serem verdade, "ajudam a ligar muitos pontos". Em concreto, explicam os entraves a um empreendimento imobiliário do Grupo Fortera, no sul da cidade, que espera aval para loteamento desde setembro de 2021, aponta.
Corpo do artigo
Elad Dror ficou surpreendido quando, no dia 10, soube da Operação Vórtex. O presidente da Câmara de Espinho e alguns empresários haviam sido detidos. Mais tarde, ficou em choque quando surgiu a notícia, baseada numa fonte anónima do PS local, de que ele próprio também fora detido; e mais chocado ainda ficou quando, num telejornal das 20 horas, a notícia falsa foi repetida, com a sua imagem e os projetos em destaque. "Foi uma coisa louca", diz.
Nesses "dias maus", teve de dar explicações a parceiros e amigos e exigir uma retificação e um pedido de desculpas. Obteve-os, mas "nunca se sabe quantas pessoas viram a notícia e não a retificação", lamenta o empresário israelita, que representa investimentos de 700 milhões de euros em solo nacional.
Segundo a investigação da PJ e do DIAP Regional do Porto, o empresário Francisco Pessegueiro terá pago a dois ex-presidentes da Câmara de Espinho, o social-democrata Pinto Moreira e o socialista Miguel Reis, para facilitar os licenciamentos dos seus projetos imobiliários e a atrasar o do Fortera.
Elad Dror garante que nunca lhe pediram "luvas", mas admite que as notícias do esquema ajudaram "a ligar muitos pontos". "Nunca pensei que, em Portugal, um país da União Europeia, isso acontecesse. Talvez tenha sido muito ingénuo", admite. Todavia, "uma coisa é não nos ajudarem, mas não nos prejudiquem. Se for verdade, é um autêntico choque e espero que as pessoas sejam penalizadas duramente".
Investimento de 80 milhões de euros
O empresário sublinha que o projeto representa um investimento de 80 milhões de euros e 40 mil metros quadrados de habitação, comércio, hotelaria e serviços, no Sul de Espinho. Foi aprovado pela Assembleia Municipal em junho de 2021, mas ainda aguarda aprovação para o loteamento.
"É um projeto que deveria ser abraçado por qualquer cidade, mas não foi isso que aconteceu depois de Miguel Reis assumir o cargo, em setembro de 2021. Pinto Moreira foi empático e alguém que queria que investíssemos na cidade. De Miguel Reis nunca vi isso. Nunca nos apoiou. Não foi uma experiência muito boa. Havia sempre mais obstáculos, mais atrasos", queixa-se Elad Dror.
O CEO do Fortera lembra-se de que a dado momento surgiu um entrave provocado por um documento, um protocolo dos anos 40. "Podia ter sido clarificado num minuto com o departamento técnico, mas quiseram pedir um parecer legal; demorou quatro meses. Foi favorável, mas depois foi preciso uma reunião para o submeter; mais dois meses. Depois, mais dois meses para ser avaliado... E depois, vai-se a ver, passou um ano e temos uma guerra na Ucrânia e as taxas de juro e os custos a subir sem parar. Esperávamos ter a obra no terreno no segundo trimestre de 2022 e ainda nada. O momento que poderíamos ter tido já se perdeu", lamenta Elad Dror, mas ainda confiante de que o projeto chegará a bom Porto e que está disponível para colaborar com a nova presidente "para mudar a cidade para melhor".