Um guarda prisional está acusado de introduzir droga na cadeia de Custóias, em Matosinhos, onde tinha funções de chefia. Com 52 anos, Ângelo M. combinou, segundo o Ministério Público (MP), um esquema criminoso com um dos reclusos que dominavam o tráfico na prisão e foi apanhado, quase em flagrante, a entregar placas de haxixe a um preso.
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Apesar de as contas bancárias do guarda mostrarem movimentos de mais de cem mil euros no período sob investigação, as provas recolhidas só permitiram acusá-lo de um crime e não foram suficientes para descobrir quem lhe entregava a droga e o dinheiro, nem como o fazia.
Ângelo M., refere a acusação, delineou um plano com um recluso da cadeia de Custóias para fazer com que quantidades consideráveis de droga entrassem naquele estabelecimento prisional. No âmbito desse acordo, o guarda prisional fazia o haxixe passar pelo sistema de segurança e controlo da cadeia, enquanto o preso, Rui M., assumia a venda da droga dentro da cadeia, diretamente ou através de outros reclusos recrutados para o efeito.
Foi assim que, no final de julho de 2019, Rui M., que naquela altura não tinha acesso direto a Ângelo M., abordou um outro preso para lhe propor um negócio: pagava-lhe 25 euros, em compras no bar da cadeia, por cada placa de haxixe, se aceitasse recolher a droga junto do guarda prisional.
Paulo C. aceitou e, pelas 11 horas do dia 31, o guarda prisional já o esperava quando passava junto a um pátio de acesso a todas as alas da cadeia. Ângelo M. pediu, então, ao preso para entrar numa pequena sala e entregou-lhe duas placas de haxixe que escondia debaixo da farda.
poucas provas
Os dois intervenientes naquela transação pensaram que ninguém se tinha apercebido do encontro, mas um segundo guarda prisional que se encontrava nas imediações estranhou aquele comportamento e, pouco depois, encaminhou o recluso para uma sala com a intenção de o revistar.
Paulo C., mesmo à porta da sala onde seria revistado, atirou as placas de haxixe para o chão, para tentar evitar ser conotado com o tráfico de droga no interior da cadeia, mas o seu nome constou na denúncia que a direção da cadeia de Custóias efetuou à Polícia Judiciária (PJ).
A investigação que se seguiu apurou que o guarda prisional descontou, em fevereiro de 2019, um cheque de 85 mil euros e que realizou múltiplos levantamentos num total de 8910 euros. Também amortizou 13 756 euros em empréstimos que tinha contraído.
Apesar destes montantes, a PJ não conseguiu recolher provas do envolvimento do guarda prisional noutras transações de droga na cadeia. E não conseguiu identificar quem, a mando do recluso, entregava o haxixe a Ângelo M. e lhe pagava os valores acordados.
Por este motivo, somente o guarda prisional e os dois presos foram, recentemente, acusados por um só crime de tráfico.
Ficou a trabalhar mais três meses
O guarda prisional manteve-se ao serviço nos três meses seguintes à apreensão de haxixe que justifica agora a sua acusação, só tendo entrado de baixa médica no final de novembro. O pedido para deixar de trabalhar deu entrada nos serviços da cadeia de Custóias 16 dias depois de ter decorrido uma operação de grande envergadura batizada "Entre Grades". Nesta diligência levada a cabo pela PJ, cinco guardas prisionais foram detidos por serem suspeitos de introduzir droga na cadeia de Paços de Ferreira. Dois deles, assim como dois reclusos, foram condenados, em dezembro de 2021, a penas entre os oito e os dez anos de prisão.
Aumento ligeiro nas cadeias
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativo a 2021 reporta, relativamente a buscas e apreensões de estupefacientes nas cadeias, um aumento no haxixe (mais 3,6 quilos, num total de 8,1 quilos) na heroína (mais 16 gramas, num total de 320 gramas), na cocaína (mais 97 gramas, num total de 136 gramas).
Mais casos em todo o país
O mesmo RASI registou mais casos de apreensão relativamente a todos os tipos de estupefacientes em análise, nomeadamente haxixe (mais 22,2%), heroína (mais 18,6%), cocaína (mais 18,1%) e ecstasy (mais 3,7%).