Rogério Machado, um dos cinco guardas prisionais detidos na megaoperação realizada pela Polícia Judiciária (PJ), recebia 100 euros por cada telemóvel que introduzisse na cadeia de Paços de Ferreira. Auferia o mesmo valor por cada placa de haxixe e 50 euros por cada anabolizante.
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Segundo a investigação, este guarda prisional, libertado após primeiro interrogatório judicial, nunca cobrava menos de dois mil euros por cada encomenda - que incluía cocaína, heroína, haxixe e telemóveis - que passasse pelos portões da prisão.
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Mas os rendimentos de Rogério Machado, 45 anos, não ficavam por aqui. O guarda prisional estaria, ao longo dos vários anos em que trabalhou em Paços de Ferreira, envolvido com outros dois reclusos, dos quais recebia quantias semelhantes pela droga e telemóveis, entre os quais iPhones, colocados no estabelecimento prisional.
Também Cide Grazina, outro guarda prisional detido e libertado após ser levado a tribunal, recebeu avultadas quantias em troca da colaboração com três presos. E o mesmo aconteceu com José Manuel Coelho, chefe dos guardas que se aposentou em junho deste ano.
Sob as ordens do preso "Joel da Afurada", José Manuel Coelho recebia a droga e os telemóveis de familiares dos presos, escapava aos mecanismos de controlo para os introduzir na cadeia e entregava a encomenda ao próprio Joel, mas sobretudo a presidiários que atuavam em nome deste recluso. Os embrulhos eram levados, depois, para a cela de "Joel da Afurada", onde a droga era pesada e dividida por pequenos sacos para ser vendida à comunidade prisional.
Através da colaboração dos guardas prisionais (numa das entregas foi contabilizado um quilo de heroína, várias placas de haxixe e ainda cocaína), "Joel da Afurada" conseguia vender cerca de meio quilo de heroína e um quilo de haxixe por semana.
Droga levada às celas
A investigação da PJ, que se prolongou pelos últimos dois anos, apurou que os guardas prisionais entregavam a droga e os telemóveis aos reclusos em vários locais do estabelecimento prisional. O pátio das diferentes alas, as oficinas, a biblioteca e o bar dos presos eram só alguns dos pontos de encontro para proceder à transação. Noutros casos, como chegou a acontecer com Cide Grazina, os embrulhos com droga e telemóveis eram deixados pelos guardas nas próprias celas.
Para além de Cide Grazina, Rogério Machado e José Manuel Coelho, foram detidos, na quarta-feira, o guarda Delfim Dispenza, o chefe Manuel Borges e o ex-presidiário Diamantino Oliveira. Todos estão, tal como José Manuel Coelho, em prisão preventiva.
Luxo
O chefe Manuel Borges é natural de Baião, mas há vários anos que vive numa vivenda localizada em Soalhães, Marco de Canaveses. Chegou a ser dono do restaurante Campo Novo e de uma pastelaria e o filho, na casa dos 20 anos, explorou outro café. Na localidade, o guarda prisional é conhecido por ser uma pessoa reservada e levar uma vida bastante desafogada, ideia reforçada por ser dono de um Mercedes e por fazer férias em locais caros.