Turco-suíço, de 26 anos, tinha na sua posse uma faca e um Corão quando foi detido e confessou. Estava vigiado pelas secretas desde 2017 por ativismo jiadista e tinha saído da prisão em julho.
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O homicídio à facada de João Azevedo, jovem emigrante português, de 29 anos, assassinado na cidade suíça de Morges no passado sábado, terá tido motivações terroristas, segundo as autoridades helvéticas. O autor do crime, de 26 anos, tem dupla nacionalidade, turca e suíça, foi detido pouco depois do crime e já confessou, afirmando que agiu para se "vingar do Estado suíço" e para "vingar o Profeta". Tinha saído da cadeia há pouco mais de um mês e estava sob vigilância dos serviços secretos por atividades relacionadas com o Estado Islâmico.
João Azevedo era natural de Vila Meã, Amarante, e estudou em Coimbra, no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Estava na Suíça há cerca de dois anos e trabalhava.
No sábado passado, pouco antes das nove e meia da noite, João preparava-se para jantar com um grupo de amigos no restaurante Evrim Kebab, na Rue de La Gare, em Morges, no cantão de Vaud, tal como costumavam fazer várias vezes por semana.
O agressor passou por ele e, sem dizer qualquer palavras, deu-lhe duas facadas e fugiu. João morreu no local e o fugitivo foi detido, no domingo de manhã, em Renens, uma cidade vizinha.
"Radicalizado"
O agressor estava zangado com a família e era alvo de vigilância ativa desde 2017 por parte dos serviços de informações helvéticos, que o classificavam como "radicalizado"", segundo um comunicado emitido ontem pelo Ministério Público Federal (MPC) suíço que, desde a primeira hora, avançara com a hipótese de se ter tratado de ato terrorista. Quando foi detido, o homem tinha na sua posse a arma do crime, uma faca com 20 cm de lâmina, e o Corão.
O homicida confesso tinha sido preso em abril do ano passado pela autoria de um incêndio numa área de serviço, em Prilly, também no cantão de Vaud. Durante a investigação deste caso foram encontrados novos indícios da "possível história jiadista do réu, que coincidiam com as informações fornecidas pelo SRC (Serviço de Informações da Confederação)".
Por essa razão, o MPC retomou o processo penal em outubro do ano passado, mas desta feita já invocando a lei federal que proíbe organizações como a al-Qaeda e o Estado Islâmico ou o seu apoio.
Desde então em prisão preventiva, o indivíduo veria essa medida prorrogada várias vezes, até ser libertado em julho passado, a pedido do próprio MPC e depois de uma avaliação psiquiátrica. Ficou, no entanto, proibido de sair à noite e de ter armas e obrigado a apresentar-se às autoridades periodicamente. Medidas que, refere o MP suíço, sempre cumpriu.
As autoridades não esclareceram a razão pela qual o grupo de portugueses e João Azevedo foram escolhidos como alvos. Tudo aponta, no entanto, para que essa escolha tenha sido aleatória e fruto de uma opção do momento.
Funeral previsto para sábado
O funeral de João Pedro da Silva Azevedo deverá realizar-se no próximo sábado às 15 horas, no cemitério de Real, em Vila Meã, Amarante. O corpo deverá ser repatriado de avião, chegando ao Porto às oito horas da manhã, do próximo sábado, uma semana após a tragédia.
A morte de João Azevedo deixou consternada a população de Real, de onde é natural o jovem. Após ter tomado conhecimento da tragédia, José Azevedo, pai da vítima, viajou para a Suíça para se inteirar do sucedido e tratar da trasladação do corpo.