O "número dois" da Igreja Católica encorajou, este sábado, em Lisboa, os políticos e autoridades civis a lutar pela dignidade humana num tempo de "múltiplas desolações", e que não se contentem com a mediocridade.
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"Vivemos tempos de particular complexidade. Cercam-nos múltiplas desolações: guerras, violências, crianças feridas, infraestruturas civis destruídas. Contudo, precisamente no meio de tudo isto, somos chamados a agir sem demora", afirmou o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, numa celebração em Lisboa, por ocasião do Jubileu das Autoridades Civis, organizado pelo Patriarcado.
"Na vossa elevada vocação como parlamentares e legisladores, diplomatas, políticos e funcionários públicos, sois chamados a muito mais do que administrar ou governar", pelo que "exorto-vos a prosseguir corajosamente neste compromisso, a trabalhar por um mundo em que o poder seja dominado pela consciência e a lei esteja ao serviço da dignidade humana", disse o cardeal italiano, pedindo aos presentes que tenham "esperança cristã".
"É uma esperança que nos chama a não parar, a não nos contentarmos, a não permanecer na mediocridade", disse.
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O "futuro da prosperidade humana não depende simplesmente de programas económicos ou de estratégias geopolíticas", mas do "amor em torno do qual escolhemos organizar a nossa sociedade", e tanto pode ser um sentimento que leva o mundo a "fechar-se sobre si mesmo, tornando-se em egoísmo e egocentrismo, ou abrir-se aos outros, ao amor a Deus e ao próximo", acrescentou.
Sobre a relação com o mundo, Parolin considera que a "Igreja não pode limitar o seu campo de ação apenas ao horizonte espiritual", porque a política é também "o conjunto das relações que estruturam a convivência humana segundo um modelo cívico, que inclui finalidades políticas, económicas, sociais e culturais".
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Na cerimónia, Parolin recordou o mandato missionário da Igreja e "Lisboa, como todas as capitais e metrópoles mundiais, representa o palco privilegiado onde o empenho concreto das autoridades civis e religiosas pode realizar este objetivo".
"Neste tempo complexo e marcado por profundas fraturas, sentimos uma necessidade que precede até o dever: a de voltar a falar, com coragem e verdade, da dignidade humana", uma "dignidade que não é concedida, mas reconhecida; que é infinita e inalienável, própria de cada homem e cada mulher, sem qualquer exclusão", disse.
Por isso, "magistrados, diplomatas, militares, forças de segurança, políticos, advogados e outros profissionais da Administração Pública são chamados a assumir um papel ativo na construção da paz, da justiça, da proximidade, da verdade e do bem comum, no coração de Lisboa", resumiu.
E neste contexto, considerou, "a missão própria da Igreja, confiada por Cristo, é de natureza religiosa, não política, económica ou social", mas pode "contribuir de modo significativo para o bem comum e para a construção de uma sociedade mais justa".
Num tempo e que as "instituições estatais e internacionais parecem incapazes de fazer prevalecer o direito, a mediação e o diálogo", nas cidades, "os cristãos entram em contacto com pessoas de diferentes sensibilidades, com crentes de outras religiões e com não crentes".
O cardeal italiano recordou o Jubileu dos Governantes, presidido por Leão XIV, que recordou aos políticos a missão de "tutelar o bem da comunidade", de promover uma verdadeira liberdade religiosa e de responder ao "grande desafio da inteligência artificial", para projetar "estilos de vida saudáveis, justos e seguros".