A Polícia Judiciária (PJ) registou nos últimos dois meses mais 21 crimes de homicídio, quer consumados, quer na forma tentada, que em relação ao mesmo período do ano passado. As tensões resultantes do confinamento obrigatório para travar a propagação do novo coronavírus pode explicar o crescimento anormal dos crimes de sangue, dos meses de março e abril.
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Ao contrário do resto da criminalidade em geral, que o recolher obrigatório terá ajudado a diminuir, com a exceção do crescimento da cibercriminalidade, apenas os crimes de homicídios têm vindo a aumentar, durante estes tempos de pandemia. Enquanto no ano passado, entre 2 de março e 26 de abril, a PJ registou 15 assassinatos e 30 tentativas de homicídio, este ano foram contabilizados 18 casos com vítimas mortais e 45 homicídios na forma tentada.
"Constatámos que houve um aumento de casos de crimes contra a vida neste período. O crescimento pode ser resultante da ansiedade social, de alguma disruptividade ou de algum confinamento. Mas há, de facto, uma tendência pontual de conflitos que não se manifesta noutros segmentos criminais", explicou ao JN Carlos Farinha, diretor nacional adjunto da PJ.
A convivência permanente e quase forçada entre as pessoas que vivem debaixo do mesmo teto poderá estar na origem de momentos de crise, propiciadores para o aparecimento de episódios de violência extrema. Os conflitos latentes entre casais, por exemplo, que se arrastaram durante meses, tiveram, agora com o confinamento, tendência para se agravar.
Um caso, em Famalicão, em que um homem, de 44 anos, asfixiou a companheira, de 36, até à morte, com um cobertor, por esta lhe ter anunciado que se queria divorciar, enquadra-se neste perfil de crime se sangue, propiciado pela convivência forçada.