Olegário Borges esfaqueou a neta, que o tratava por "paizinho", depois de a mãe da criança se ir encontrar com o novo namorado.
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Os ciúmes que Olegário Borges, 69 anos, tinha em relação ao novo namoro da sua filha, que a levava a estar fora de casa muito tempo, são a razão apontada para o homicídio brutal da própria neta, Lara, de sete anos, em casa, no Bairro da Icesa, em Vialonga, na noite de segunda para terça-feira.
A mãe da menina, ao chegar a casa, no 1.º esquerdo do número 2 da Rua Primeiro de Dezembro, perto das 4 horas de terça-feira, deparou-se com um cenário dantesco e chamou as autoridades. A filha estava morta, a casa revirada, e havia sangue por todas as paredes, sinal que a menina lutou contra o avô, a quem chamava "paizinho" e com quem tinha uma relação admirável, do ponto de vista dos vizinhos.
O homicida, a quem não é conhecida qualquer doença mental, é tido pela vizinhança como pacato e simpático, mas discutia com a filha sobre o pouco tempo que esta passaria em casa. E, ainda na noite de segunda-feira, quando a mulher, de 25 anos, se tinha ido encontrar com o namorado, decidiu matar Lara. A menina ainda terá tentado fugir, mas acabou por falecer, em consequência de várias facadas.
Cometido o crime, Olegário Borges terá ficado horas a fio junto do corpo da neta, já sem vida, à espera que chegasse a filha, que trabalha numa pastelaria em Lisboa. Assim que esta entrou, sem desconfiar de nada, e se deparou com o horror, pegou na filha e gritou pelas escadas com a menina ao colo. "Não cheguei a tempo de salvar a minha filha", exclamou, segundo o vizinho Diogo Gomes, que acordou com os gritos. Nesse momento, o homicida tentou, mas não conseguiu, suicidar-se, golpeando os pulsos e o pescoço com uma faca de cozinha, a mesma que tinha usado para matar Lara.
O óbito da menina foi declarado no local pelo INEM, enquanto Olegário Borges foi transportado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, pelos Bombeiros Voluntários de Vialonga. Foi operado com sucesso aos ferimentos autoinfligidos e não corre perigo de vida.
De manhã, vários vizinhos dirigiram-se ao local do crime para verificar se era mesmo verdade o que fora noticiado. Afinal, nunca tinham visto nada que indiciasse que tal tragédia pudesse acontecer. Antes pelo contrário: avô e neta eram tidos como muito próximos e como tendo uma relação invejável. Mónica Rodrigues, vizinha e amiga da família, mostrou-se estupefacta. "Não sabia de qualquer problema que houvesse naquela casa, é muito triste o que aconteceu, o avô e a menina andavam sempre juntos, eram vistos a brincar e sorridentes", contou.
A mãe da menina recebeu apoio psicológico do INEM e será ajudada pela Junta de Freguesia de Vialonga para recuperar. Já o homicida será ouvido e detido pela Polícia Judiciária de Lisboa, quando receber alta hospitalar. Ontem à noite, ainda não tinha falado com os inspetores da PJ.
Saiba mais
Militares receberam apoio psicológico
Os primeiros militares da GNR a chegar ao local do crime não estavam preparados para o cenário de terror que encontraram, com muito sangue espalhado pela casa, e tiveram mesmo de receber apoio psicológico.
Vizinhos ouviram gritos à noite
O crime ocorreu ainda na noite de segunda-feira. Antes da meia-noite, vizinhos ouviram gritos, mas estes cessaram e ninguém chamou a polícia.
Não há registo de violência doméstica
A GNR local nunca recebeu nenhuma queixa de violência doméstica que envolvesse o agregado familiar.