Idoso tratava dos legumes enquanto Lara brincava numa mesa junto de si.
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Todos os fins de semana, a pequena Lara acompanhava o avô até à sua horta, nas traseiras do Bairro da Icesa, a poucas centenas de metros de casa. A menina era ali vista a brincar com os seus bonecos, sentada junto a uma mesa, mesmo junto à horta, enquanto o avô, que a viria a matar na noite de segunda-feira, tratava dos legumes.
O ambiente entre os dois era sempre o melhor e admirável, garante Isabel Duarte, que tem um fumeiro adjacente à horta onde avô e neta passavam os sábados e domingos. Enquanto mostrava ao JN o local onde agressor e a vítima desfrutavam dos fins de semana, a moradora no Bairro da Icesa mostrou-se perplexa com o trágico homicídio. "Davam-se os dois muito bem e era bonito de se ver", assegura a mulher.
"Ele tratava da horta e ela estava sentada sempre numa mesa a brincar e a ver o avô que tratava por paizinho. Ele cuidava sempre muito bem dela, ouvia-o constantemente a dizer-lhe para beber água, para comer, para ir ter com ele na horta para aprender a cultivar, todo um ambiente muito bom e de admirar entre avô e neta. Ele preocupava-se muito com ela".
Durante a semana, o avô levava a menina à escola, na Associação para o Bem-estar Infantil de Vialonga, perto de casa, e depois dirigia-se sozinho à horta. "É um homem muito reservado, não falava muito, mas não era antipático, foi uma grande tragédia o que aconteceu", contou a moradora, sem conseguir encontrar qualquer explicação para a trágica morte de Lara.
Tal como Isabel Duarte, outros moradores no bairro camarário que utilizam a mesma zona de mato para ter as suas hortas destacaram a cumplicidade entre Olegário e a neta. "Nunca pensei que isto viesse a acontecer", afirmou um desses moradores.
Aquela área onde residentes cultivam hortícolas não pertence à Autarquia, nem estão em causa hortas comunitárias, mas é do conhecimento da Junta de Freguesia. "Há uma horta comunitária de facto, mas está lotada, e os moradores do bairro acabam por usar este espaço para cultivar os seus legumes", diz o presidente da Junta de Freguesia de Vialonga, João Tremoço.
Família recebia apoio alimentar
A menina frequentava a escola na Associação para o Bem-estar Infantil de Vialonga e era o avô que ali a levava todos os dias. A família recebia da associação apoio alimentar, mas não estava sinalizada pelas autoridades por quaisquer indícios de maus-tratos ou carências.
João Tremoço, presidente da Junta de Freguesia de Vialonga, conta o choque com que recebeu a notícia. "Trata-se de uma família estruturada, que vive numa casa alugada, com uma relação afetuosa e sem qualquer sinal de alarme para o que viria a acontecer". O apoio alimentar que a família recebia não era em abundância, mas apenas pontual, afirmou João Tremoço, que prontificou os serviços da Junta de Freguesia para ajudar a família.