O Tribunal Central Criminal de Lisboa dá hoje início ao julgamento de oito jiadistas portugueses, pela prática, em coautoria, de três crimes: adesão e apoio a organizações terroristas; terrorismo internacional (relacionado com recrutamento para organizações terroristas); e financiamento do terrorismo.
Corpo do artigo
Apenas se deverão sentar no banco dos réus dois dos arguidos: Cassimo Turé, que tem estado em Londres; e Rómulo Costa, que está preso preventivamente na cadeia de alta segurança de Monsanto. Este indivíduo, na casa dos 40 anos e irmão de outros dois arguidos, com quem residiu na zona de Massamá (Sintra), foi o único que requereu a instrução do processo, para contestar a acusação e evitar o julgamento. Porém, toda a sua argumentação foi rejeitada pelo juiz titular, Carlos Alexandre.
4554684
Dos restantes seis arguidos, Nero Saraiva, apontado como o mais perigoso de todos, está preso na Síria, há cerca de um ano, à guarda de forças curdas. Aos outros cinco - Sadjo Turé, Edgar Costa, Celso Costa, Fábio Poças, Sandro Marques - não se lhes conhece o paradeiro, havendo dúvida, inclusivamente, se sobreviveram à guerra da Síria, onde o Estado Islâmico perdeu o seu último reduto, já no ano passado. À falta de provas da morte daqueles terroristas portugueses, os mesmos são julgados, à revelia, pelos crimes por que foram acusados e pronunciados.
Rómulo Costa e Cassimo Turé, os membros da causa jihadista que poderão ser vistos, hoje, no Campus da Justiça de Lisboa, são também os únicos arguidos que, segundo a acusação, nunca quiseram ir para a Síria e participar diretamente na guerra. Não obstante, o Ministério Público considera que ambos desempenharam papéis muito relevantes, ao nível do recrutamento, financiamento, apoio logístico e deslocação de cidadãos portugueses e britânicos para a Síria.
4384745
A investigação sobre este grupo de terroristas começou na altura em que as autoridades se aperceberam do envolvimento de Nero Saraiva no rapto de dois fotojornalistas que cobriam a guerra da Síria, o britânico John Cantlie e o holandês Jeroen Oerlemans.
A prova recolhida, designadamente através da interceção de comunicações eletrónicas, levou o MP a concluir que os arguidos atuavam por força de uma "profunda convicção político religiosa, marcadamente salafista-jiadista, de natureza violenta". A partir de 2011, de forma organizada e através de um grupo que formaram, os arguidos foram-se juntando a diferentes organizações terroristas com a mesma matriz, designadamente o ISIS e Brigada dos Emigrantes, até se tornarem membros do autoproclamado Estado Islâmico.
4498120
Instrução em campos de treino
Segundo a acusação, entre 2011 e 2012, quatro arguidos estiveram em campos de treino na Tanzânia, antes de rumarem à Síria, via Sudão e Turquia. O arguido Edgar Costa foi ali instrutor, um papel que também seria assumido por Fábio Poças, que terá dado instrução a mais de mil recrutas.
Comandou terroristas
Nero Saraiva chegou a assumir funções de comando, na guerra da Síria, mas terá sido capturado por forças curdas, que o têm como um elemento valioso. Nero, com a última morada conhecida em Massamá (Sintra), terá sido dos primeiros europeus a juntar-se à causa jihadista na Síria.
4480267