O ex-banqueiro João Rendeiro foi encontrado morto na prisão de Westville, em Durban, África do Sul. A Polícia Judiciária e a advogada confirmaram ao JN que se terá suicidado.
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Nascido em 22 de maio de 1952, em Lisboa, João Rendeiro foi fundador e administrador do Banco Privado Português (BPP), banco que surgiu em 1996 a partir da compra da In-cofina ao BCP, com um grupo de investidores em que se destacavam Pinto Balsemão, a família Vaz Guedes e Joe Berardo.
O início da fortuna de João Rendeiro é atribuído à venda, nos anos 90, de um fundo (Gestifundo) de investimentos em mercados de capitais que tinha criado em 1986. Tinha ali investido 25 mil euros e vendeu-o ao Totta, onde também ficaria a trabalhar, durante cinco anos - por 15 milhões.
Foi só o início, mas ajuda a perceber uma certa aura de alquimista que se lhe pegaria, do gestor doutorado na Universidade de Sussex (Inglaterra) que transmutava milhares em milhões. É essa, de resto, a imagem que haveria de imprimir no banco que criou, em 1996: o BPP.
Só os ricos eram clientes - um milhão de euros chegou a ser o investimento mínimo para o serem - e Rendeiro mostrou-se capaz de os tornar ainda mais ricos. Até 2008. A crise financeira que rebentou por esta altura demonstrou, lá fora e no BPP, que este banco tinha muitos esqueletos no armários, obrigando Rendeiro a pedir ajuda ao Estado.
Mas foi de pouca dura, este estado de alma. Em 2009, já o ex-banqueiro se exibia nos escaparates, com o "Testemunho de um banqueiro", livro prefaciado pelo socialista João Cravinho e onde o autor, criador de uma coleção de arte contemporânea que se encontra nas mãos da justiça, já se autorizava a dar conselhos de boa gestão.
Problemas com a justiça
O ex-banqueiro foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do BPP, em 2010, que lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.
O tribunal deu como provado que Rendeiro retirou do banco 13,61 milhões de euros. Das três condenações, apenas uma já transitou em julgado e não admite mais recursos, com João Rendeiro a ter de cumprir uma pena de prisão efetiva de cinco anos e oito meses. João Rendeiro foi ainda condenado a 10 anos de prisão num segundo processo e a mais três anos e seis meses num terceiro processo, sendo que estas duas sentenças ainda não transitaram em julgado.
João Rendeiro estava fugido à justiça portuguesa havia três meses, quando foi detido, ao início da manhã de 11 de dezembro, num hotel de cinco estrelas em Durban, na África do Sul.
As autoridades portuguesas reclamaram a sua extradição para cumprir pena em Portugal, mas o ex-banqueiro garantiu sempre que não voltaria ao país. "No decurso dos processos em que fui acusado efetuei várias deslocações ao estrangeiro, tendo comunicado sempre o facto aos processos respetivos. De todas as vezes regressei a Portugal. Desta feita não tenciono regressar. É uma opção difícil, tomada após profunda reflexão", escreveu, em setembro, num artigo publicado no seu blogue Arma/Crítica.
*com agências