Apreciando os e-mails do Benfica revelados pelo F. C. Porto e o grau de falta de "interesse público" na revelação, o juiz Paulo Duarte Teixeira - que condenou, para já, os portistas a pagar 1,953 milhões -, dividiu-os na sentença em quatro grupos. Fixou indemnizações entre 10 mil e 340 mil euros por cada e-mail ilicitamente divulgado com intenção de denegrir o clube rival.
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E-mails de Pedro Guerra e Adão Mendes
"Padres" e "missas"
Em 6 de junho de 2017, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do F. C. Porto, denunciou no "Universo Porto - da Bancada", do Porto Canal, e-mails entre Adão Mendes, ex-árbitro, e Pedro Guerra, na altura diretor de conteúdos da Benfica TV, salientando que configuram "esquema de corrupção [na arbitragem] para beneficiar o Benfica". Trata-se do célebre e-mail de 28 de janeiro de 2014 em que Adão fala em "padres" como código para árbitros e "missas" para jogos dos encarnados, referindo-se ainda a "primeiro-ministro" para aludir a Luís Filipe Vieira. Noutra mensagem menciona o nome de oito árbitros, que Marques diz estarem ao serviço da Luz. Sobre estes e-mails, o juiz salienta estarem "truncados", evidenciando-se "má-fé" e "vontade de acomodar a realidade à mensagem que se quer passar". Isto porque, na divulgação, foram omitidas duas frases: "Os maiores erros têm sido cometidos pelos internacionais, nomeadamente quando arbitram o Benfica" e "O poder está no trabalho dia a dia, na busca da verdade e da seriedade e isso faz a diferença". O juiz conclui que a primeira truncagem conduz a indemnização de 80 mil euros e a segunda de 160 mil. O juiz não dá relevo à investigação criminal que decorre sobre o caso.
Contrato de bruxaria de Luís Filipe Vieira
General Nhaga
Em 28 de junho de 2017, Francisco J. Marques acusou o Benfica de recorrer a "bruxaria" para obter resultados desportivos. No Porto Canal, partilhou um e-mail a envolver Vieira e o "General Doutor Armando Nhaga, comissário nacional da Polícia da Guiné Bissau". Rui Gomes da Silva, ex-vice dos encarnados, terá sido o intermediário. Esta é a matéria avaliada como mais grave pelo juiz, por visar "denegrir a credibilidade comercial com base na suposta existência de um crime semipúblico [infidelidade]". Por causa da repercussão no estrangeiro, o episódio merece uma indemnização de 340 mil euros, decidiu o magistrado.
Entrevista de Vieira ao jornal "A Bola"
Respostas por assessores
No dia 5 de setembro de 2017, o diretor de comunicação revelou vários e-mails trocados entre assessores de Luís Filipe Vieira (incluindo António Galamba, apresentado como sendo quem escreve as entrevistas e os discursos do presidente do Benfica). Nesses e-mails, percebe-se que foram os assessores de Vieira que responderam às perguntas de uma entrevista publicada no jornal "A Bola" e que o dirigente apenas terá intervindo para aparecer numa fotografia. O juiz refere não haver qualquer interesse público e a sua divulgação visou "apenas denegrir e satirizar as capacidades intelectuais" de Vieira. A indemnização foi fixada em 40 mil euros por cada e-mail.
Acesso a computador de Jorge Jesus
Sugestão de dirigente
Em 9 de agosto de 2017, Francisco Marques revelou e-mails trocados entre Domingos Soares Oliveira, administrador da SAD do Benfica, e dois advogados ligados a um processo laboral que então decorria em tribunal contra Jorge Jesus, com conhecimento de Paulo Gonçalves. Domingos terá sugerido que se investigasse o computador que Jorge Jesus levou para o Sporting, a fim obter elementos que pudessem ser úteis em tribunal. O juiz Paulo Teixeira integra este episódio num conjunto de e-mails que têm "algum interesse público mas o fim visado não foi informar, mas afetar um concorrente", com "intenção comercial de perturbação". Cada e-mail divulgado deve equivaler a indemnização de 20 mil euros.
Mensagens do atual líder da Federação
Fernando Gomes devassado
No dia 22 de junho de 2017, o responsável de comunicação do F. C. Porto acusou o Benfica de monitorizar as mensagens telefónicas do atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. Em causa mensagens enviadas em 2014 por Carlos Deus Pereira, então presidente da Assembleia Geral da Liga, a Pedro Guerra, com o conteúdo de centenas de SMS de Fernando Gomes, de 2011, na altura líder da Liga de Clubes. O juiz considera ilícita e não justificada a divulgação do caso, porque se trata de crime de devassa da vida privada que, em 2017, já estava prescrito e caducado o direito de indemnização. O caso estará incluído num outro grupo de emails, cuja divulgação é sancionada com 10 mil euros de indemnização.
Detalhes
1, 953 milhões de euros
É o montante da condenação do F. C. Porto, por danos patrimoniais e não patrimoniais infligidos ao Benfica, pela divulgação dos e-mails.
Segredos de negócio
A indemnização vai aumentar quando for concretizado, em execução de sentença, o valor dos dados referentes aos segredos de negócio (planos de treino, contratos comerciais, dados clínicos e outros) do Benfica que o juiz entende serem detidos ilicitamente pelo F. C. Porto.
Vai haver recurso
Condenados foram o F. C. Porto, a SAD, o F. C. Porto Media e Francisco J. Marques, tendo sido absolvidos Pinto da Costa, Adelino Caldeira, Fernando Gomes e Avenida dos Aliados, proprietária do Porto Canal. Vai haver recurso para a Relação do Porto. Para as 15 horas de hoje está marcada uma manifestação, em frente ao Palácio da Justiça do Porto.