Fundo de investimento ligado ao futebol e denunciado por Rui Pinto está a ser investigado por branqueamento de capitais em Portugal.
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A Doyen Sports tem uma conta bancária com oito milhões de euros congelados por ordem das autoridades portuguesas. O fundo de investimento ligado ao futebol é alvo de uma investigação por suspeitas de fraude fiscal em Espanha e de branqueamento de capitais em Portugal.
Esta entidade com sede em Malta e escritório em Londres (Inglaterra) foi visada por Rui Pinto num caso de tentativa de extorsão de uma verba entre 500 mil e um milhão de euros. Aliás, foi este ilícito que sustentou, em fevereiro de 2019, a aplicação ao pirata informático da medida de coação de prisão preventiva e depois, em abril passado, obrigação de permanência na habitação, em instalações da PJ. O início deste julgamento está marcado para 4 de setembro, respondendo o arguido por 90 crimes, incluindo acesso indevido a sistemas informáticos.
O congelamento da conta bancária do fundo que tem em Nélio Lucas o seu rosto foi concretizado por ordem judicial de 28 de fevereiro do ano passado, após alerta bancário ao abrigo da lei de prevenção do branqueamento de capitais.
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A interdição de movimentos bancários tem sido mantida de três em três meses, não obstante as contestações da Doyen, e foi confirmada agora por um acórdão do Tribunal da Relação do Porto.
Em 2019, foi tornada pública uma investigação sobre a Doyen em Espanha, por suspeitas de fraude fiscal em negócios de futebol. Por sua vez, esta investigação terá tido origem na divulgação de documentos por parte de Rui Pinto, fundador do Football Leaks. Esta génese do processo é reconhecida pela própria Doyen e é sublinhada como argumento no sentido de que a Justiça portuguesa está a utilizar provas recolhidas ilegalmente.
Paraíso fiscal e segredos
Tudo começou com uma ordem de transferência de 586 mil euros para Inglaterra. Foi travada por ser considerada suspeita. E foi também travada uma transferência de quatro milhões de euros para uma entidade com sede em Santa Lúcia, um paraíso fiscal do Caribe.
A Doyen tentou justificar os movimentos com contratos de prestação de serviços, incluindo com uma sociedade de advogados inglesa. Os 586 mil euros referir-se-iam a um prémio de 14% pela cobrança de créditos em torno de direitos sobre futebolistas.
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O fundo alegou a real existência de serviços, avançando terem sido trocados um total de 12 044 e-mails entre as várias entidades. Mas, devido a "segredos", concretamente "comercial", "industrial" e "profissional", nenhum foi exibido às autoridades portuguesas. Também não foram reveladas as identidades dos funcionários, exceto a do diretor Nélio Lucas.
Os juízes da Relação, apoiando as conclusões do Ministério Público e do juiz de instrução criminal do Porto, confirmaram a existência de suspeitas, não autorizando as transferências
Contratos simulados
O Ministério Público entende que os contratos apresentados e as transferências ordenadas não passam de um esquema para movimentar elevadas quantias em dinheiro de origem ilícita. A investigação refere contratos simulados e falta de rasto das prestações de serviços.
Suspeitas
Com o português Nélio Lucas como diretor, a Doyen notabilizou-se como fundo de investimento em direitos económicos sobre futebolistas, num total de 170 milhões de euros. Rui Pinto tem colocado em causa a licitude dos capitais, atribuindo-os a uma família do Cazaquistão.