O "Barão da Pasteleira" montou três laboratórios clandestinos para "cozinhar" grandes quantidades de cocaína e heroína, que vendia a consumidores no Bairro da Pasteleira Nova, no Porto.
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Estes locais, situados em residências arrendadas para o efeito na Maia e Matosinhos, eram geridos por três colaboradores diretos de Fábio Ribeiro, líder da rede "Pica-Pau/Picolé", conhecido por "Crilim". Todos os "cozinheiros" foram detidos pela PSP, no final de março do ano passado, e já estão a ser julgados por tráfico de droga. No banco dos réus estão sentados outros três elementos da organização, que arrendaram as habitações sabendo que seriam usadas para preparar e embalar o produto estupefaciente.
"Crilim", que se manteve em liberdade até a semana passada, sempre se mostrou cauteloso e para evitar cair nas malhas da lei não tocava na droga. Entre 2021 e 2022, também manteve a preparação da cocaína e heroína longe da Pasteleira Nova, bairro vigiado, quase em permanência, pela PSP. A droga, comprada em elevado estado de pureza, era misturada com paracetamol, cafeína, bicarbonato de sódio e fenacetina, assim como embalada em doses individuais, em casas arrendadas em Pedrouços, Senhora da Hora e Leça da Palmeira.
Compraram tachos e panelas
O "Barão da Pasteleira" nem sequer ficava ligado ao contrato de arrendamento desses apartamentos e moradias, delegando essa tarefa em elementos da rede que, em 31 de março do ano passado, foram detidos pela PSP e já estão a ser julgados por cúmplices no tráfico de droga.
Detidos e igualmente acusados de tráfico de droga no julgamento que decorre no Tribunal São João Novo, no Porto, estão Luís S., Daniel S. e Ricardo R.. Segundo a acusação consultada pelo JN, estes homens "dominavam os procedimentos técnicos necessários ao processamento da droga" e eram os "cozinheiros" da principal rede a atuar na Pasteleira Nova.
Foram ainda eles, alega o Ministério Público, que equiparam os laboratórios caseiros com dezenas de panelas, tachos, bacias, coadores e lâminas. E compraram balanças de precisão e uma prensa para proceder à desumidificação total e de forma célere da droga.
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Luís S., Daniel S. e Ricardo R. passavam dias e noites a "cozinhar" a droga e, depois de a embalar em sacos plásticos individuais, dirigiam-se à Pasteleira Nova para a entregar aos vendedores da rede "Pica-Pau/Picolé".
Além dos laboratórios clandestinos, a organização tinha dois espaços para guardar a droga, produto de corte e dinheiro proveniente do tráfico. Um destes locais era uma garagem, no Porto. O outro era a moradia que Daniel S. partilhava com a companheira que, por isso, também está a ser julgada.
Sem laboratórios, "Crilim" acabou detido pela PSP
Na operação de março do ano passado, a PSP apreendeu mais de 138 mil euros, 8,8 quilos de heroína e 6 quilos de cocaína. Sem laboratórios, sem droga e sem dinheiro, "Crilim" ficou em dificuldades financeiras e viu-se obrigado a cortar despesas. Abdicou dos "cozinheiros" e assumiu a confeção da cocaína e heroína em apartamentos, alguns deles considerados devolutos, existentes na Pasteleira Nova. Foi o princípio do fim para o "Barão da Pasteleira", cuja atividade passou a ser vigiada pela PSP. No final da semana passada, "Crilim" foi detido numa das maiores intervenções policiais realizadas no Porto.
Panelas
Num dos laboratórios foram encontradas 26 panelas com resíduos de cocaína. Noutro, havia dez balanças de precisão e dezenas de lâminas para cortar a droga em doses individuais.
Apontamentos
Na casa da Senhora da Hora, os "cozinheiros" guardavam um caderno com apontamentos referentes à manipulação de droga. O objetivo era misturar a maior quantidade possível de paracetamol ou bicarbonato de sódio para "exponenciar os lucros".
Tentativa de fuga
Luís S. tentou fugir pela janela quando a PSP entrou, de surpresa, num dos laboratórios
O que foi apreendido em cada uma das casas:
Apartamento Travessa Gonçalo Mendes da Maia, em Pedrouços
Sacos de plástico para embalar droga.
Casa na Rua Alfredo Espírito Santo Júnior, Senhora da Hora, Matosinhos:
- Grande quantidade de droga;
- Dezenas de lâminas
- 10 balanças de precisão
- Seis tachos, uma panela e quatro bacias com droga;
- Coador em plástico com vestígios de droga
- Dois raspadores em plástico com vestígios de heroína;
- Uma caixa contendo vários sacos de plástico
- Um caderno com apontamentos referentes à manipulação de droga
- Uma prensa hidráulica que permite a desumidificação total e de forma célere da droga. Era composta por mesa de apoio regulável em altura e incluía manómetro indicador de força de pressão e cilindro hidráulico com retração automática do pistão
- Embalagens de paracetamol e cafeína e bicarbonato de sódio
- Sacos com mais de 29 500 euros em notas e moedas
- uma máquina de contar moedas
Residência na Rua Humberto Cruz, Leça da Palmeira, Matosinhos
- Vários sacos em plástico transparente utilizados para o embalamento de droga. Alguns guardavam droga
- Uma escumadeira com resíduos de cocaína
- 26 panelas com resíduos de cocaína
- Escorredor com resíduos de cocaína
Garagem, sita na Rua de Tânger, no Porto
- Embalagens de droga, paracetamol, cafeína e fenacetina
- Embalagens de lâminas
- Uma balança digital
Rua Afonso de Aveiro, Pasteleira Velha, Porto
- 50 mil euros em notas