A Pasteleira Nova é, por estes dias, um bairro quase livre de drogas. Naquele que era o supermercado de cocaína e heroína do Norte do país, poucos são os que continuam a vender e a consumir produtos estupefacientes. Fruto de uma musculada e permanente repressão policial, traficantes e toxicodependentes rumaram a bairros vizinhos como Ramalde, Campinas e Francos. Outros fixaram-se na Sé e muitos deslocaram-se para a parte Oriental da cidade, onde rapidamente montaram arraiais, sobretudo, no Cerco do Porto, mas também no Lagarteiro. É o regresso a um passado recente, que muitos temem que volte a ser dramático e que a PSP já combate com ações de visibilidade e de investigação criminal.
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Na manhã de 20 de abril, cerca de 300 polícias, comandados pelo próprio diretor nacional da PSP, superintendente-chefe Magina da Silva, irromperam pela Pasteleira Nova. Durante várias horas, vasculharam o bairro e, no final, apreenderam cerca de 11 quilos de droga e 13 mil euros. E, mais importante, detiveram 15 traficantes, entre os quais o "Barão da Pasteleira Nova". Aos 36 anos, Fábio Ribeiro, de apelido "Crilim", era visto pelas autoridades como dono de uma das mais lucrativas "bancas" de venda de estupefacientes e o principal fornecedor de cocaína e heroína aos restantes traficantes radicados no bairro.
Vigilância permanente
Desde este ataque ao narcotráfico nunca mais a PSP saiu da Pasteleira Nova. Todos os dias, ao longo de 24 horas, há pelo menos duas viaturas estacionadas no epicentro do aglomerado de prédios e cerca de uma dezena de polícias patrulham as ruas Vieira da Silva, Domingos Alvão e Costa Júnior. Como consequência, as "bancas" de droga que atraíam centenas de toxicodependentes às vielas que separam os blocos habitacionais desapareceram.
Hoje, nas mesmas artérias onde vagueavam mulheres e homens semelhantes a zombies sedentos de crack ou speedball, há mães a passear com crianças pela mão. O chão dos passeios está limpo de seringas e os moradores sentem-se livres para limpar o carro à porta de casa. Também as paragens de autocarro passaram a abrigar apenas gente à espera de transporte para a escola e emprego e já ninguém ali dorme no intervalo de duas doses de droga. Até os pássaros voltaram a chilrear no silêncio de um bairro que parece já ter esquecido os gritos dos "vigias" que alertavam para a chegada abrupta da Polícia.
Acabaram os assaltos
"Depois da operação policial e de um dia para o outro, todos os toxicodependentes que viviam permanentemente aqui, que se drogavam aqui, desapareceram. Não se vê um único durante o dia", congratula-se João Brito. Membro da Associação de Moradores do Bairro das Condominhas, um dos locais mais afetados pelo drama que se disseminava a partir da Pasteleira Nova, João Brito assegura também que nunca mais houve um assalto por aqueles lados e que, por esse motivo, até os vigilantes contratados pelos moradores foram dispensados. "Está tudo muito calmo. A Polícia montou uma operação permanente na Pasteleira Nova, o que tem impedido o renascimento da atividade [do tráfico]", justifica.
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Neste momento, o único receio dos moradores é que, após a retirada dos agentes, traficantes e consumidores regressem à origem. "Essa é a nossa principal preocupação e era importante, como se chegou a falar, que se instalasse um posto permanente da PSP no bairro. Se os polícias saírem de lá, como é que se vai conseguir impedir que aquilo volte ao que era?", questiona.
Com o fim do tráfico e dos crimes, terminaram igualmente as reuniões entre moradores e a Câmara do Porto. Contudo, João Brito avisa que se mantêm atentos e atuarão ao mínimo sinal de alerta. "A partir do momento em que notarmos algo estranho, vamos, sem dúvida, comunicá-lo a todas as entidades, de forma a que haja uma operação consertada para evitar que isto volte ao que era anteriormente", avisa.
Ações policiais
PSP deteve 15 traficantes no Cerco só no último mês
A PSP não faz, para já, um balanço do trabalho feito, e seus efeitos, na área da Pasteleira Nova e, confrontado pelo JN, o Comando Metropolitano do Porto limita-se a dizer que, desde o início do ano, realizou 787 ações policiais de visibilidade. Fonte oficial acrescenta que "foram igualmente desenvolvidas operações de repressão criminal" que levaram, no mesmo período, a que fossem concretizadas "289 detenções (217 por tráfico de estupefacientes) e apreendidas mais cem mil doses de estupefacientes", nomeadamente 48 mil doses de cocaína e 43 mil de heroína.
No entanto, contas efetuadas pelo JN com base nos comunicados emitidos pela PSP do Porto mostram que, desde a operação que levou cerca de 300 polícias à Pasteleira Nova, foram detidos neste bairro apenas duas pessoas, na posse de 217 doses de droga.
Em contraponto, só no Cerco do Porto, a PSP deteve 15 traficantes e apreendeu mais de oito mil doses de droga. Na semana passada, por exemplo, uma operação que mobilizou elementos da 3.ª Divisão, da Unidade Especial de Polícia e das Equipas de Prevenção e Reação Rápida terminou com três detidos e 18 pessoas identificadas na posse de vários tipos de droga. Todos foram apanhados nos bairros do Cerco do Porto e de São Tomé.