O Ministério Público (MP) de Setúbal mandou deter a mãe de Jéssica Biscaia, a menina de três anos morta à pancada em junho, por considerar que ela teve uma intervenção direta no morte da criança ao não providenciar o seu socorro, deixando-a morrer. Está indiciada por homicídio qualificado, em coautoria.
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O procurador titular do processo quer Inês Paulo, 37 anos, no mesmo banco dos três arguidos já detidos pela Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal - Cristina "Tita", de 52 anos, o marido, Justo, de 58, e a filha, Esmeralda, de 27. O MP acredita que a menina teria sobrevivido se, ao invés de a levar para casa, onde agonizou e morreu, a sua mãe a tivesse levado ao hospital quando a foi buscar, depois de uma semana de espancamentos brutais, em casa dos restantes arguidos.
No caminho de regresso, Inês passou pela PJ, pela GNR e conseguiu visualizar o hospital, a poucas centenas de metros, sem nunca ter procurado ajuda para a criança.
Jéssica morreu em casa a 20 de junho, por causa de uma dívida que a mãe não conseguia pagar, relacionada com o consumo de droga. Dias após o crime, Inês dissera à PJ que a dívida tinha a ver com serviços de bruxaria.
Uma semana de torturas
Ontem, também foi detido o filho de Tita, de 28 anos, por suspeita de participação no crime. Morava no mesmo prédio, no Beco do Penhanha, onde a menina esteve em cativeiro e foi torturada durante uma semana. Está indiciado igualmente por crime de tráfico de estupefacientes.
A detenção de Inês acontece em vésperas de dedução da acusação do MP sobre o caso e´é sustentada pela conclusão das perícias do Instituto Nacional de Medicina Legal e do Laboratório da Polícia Científica da Polícia Judiciária. A autópsia ao corpo da menina aponta para dezenas de golpes na cabeça que a desfiguraram e provocaram o descolamento do crânio.
Os mandados de detenção foram cumpridos pela Polícia Judiciária de Setúbal. Inês e o filho de Tita foram levados perante um juiz de instrução, mas as medidas de coação só deverão ser conhecidas hoje.
Jéssica foi raptada numa terça-feira, dia 14 de junho, quando Cristina pediu a Inês para levar a menina à sua casa para brincar com a sua neta enquanto falavam da dívida. Foi retida na casa dos arguidos, no Beco da Penhanha, até 20 de junho, o dia em que a mãe a foi buscar. Inês recebeu ameaças de morte por sms para que saldasse a dívida. Chegou a ser seguida pelas suspeitas na baixa setubalense, enquanto Justo, mantinha a menina presa em casa, mas nada fez para pagar o que devia e salvar a menina.
Sem meios para satisfazer os credores, Inês foi buscar Jessica que, gravemente ferida e debilitada, acabaria por morrer em sua casa. A mãe justificou que não foi ao hospital nem à polícia por temer pela sua vida. Aos inspetores, mostrou as mensagens ameaçadoras. "Se fores à polícia ou ao hospital matamos-te a ti e à tua família", diziam os suspeitos.
Cristina, Justo e Esmeralda tentaram a fuga logo após o crime, mas foram detidos em Leiria, quando se preparavam para sair do país. Estão em prisão preventiva indiciados por homicídio qualificado, extorsão, ofensas físicas graves e coação.