Mãe que matou filho à nascença não quis ninguém a ouvi-la no Tribunal de Aveiro
Mulher de 34 anos começou a ser julgada, esta segunda-feira, por crimes cometidos na Mealhada, em julho do ano passado.
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Inês C., de 34 anos, acusada de, em julho do ano passado, ter matado o próprio filho após o parto, abandonando-o depois num contentor do lixo, na Mealhada, começou a ser julgada, esta segunda-feira, no Tribunal de Aveiro. No entanto, no início da audiência, o advogado de defesa pediu ao coletivo de juízes que o depoimento da arguida não tivesse assistência, o que motivou a que o público que estava na sala fosse obrigado a sair, para a sessão continuar, temporariamente, à porta fechada. A mulher, que se encontra desde janeiro em prisão domiciliária, responde pelos crimes de homicídio qualificado e de profanação de cadáver.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), Inês planeou matar o bebé assim que soube que estava grávida, não tendo, por isso, frequentado consultas de acompanhamento da gravidez nem adquirido quaisquer artigos de puericultura ou roupas de bebé. Ao mesmo tempo, de acordo com o MP, Inês C. escondeu a gravidez do namorado e da família, ao utilizar roupas largas que não evidenciassem a barriga.
A 25 de julho de 2022, a arguida iniciou o trabalho de parto na casa de banho, na sua própria casa, depois de ter deixado os seus dois outros filhos, menores de idade, em casa da mãe a almoçar. Sozinha, viria a dar à luz um bebé com 47,5 centímetros e 2,549 quilos, o que era compatível com uma idade gestacional superior a 37 semanas.
Dentro de sacos de plástico
Após o nascimento da criança, Inês C. terá cortado o cordão umbilical, colocando, de seguida, o bebé no interior de vários sacos de plástico, que viria a depositar num contentor do lixo, próximo da sua residência. Depois, foi trabalhar. “A criança nasceu com vida, com ausência de malformações internas ou externas, respirou e chorou”, refere a acusação do MP.
Foi já durante a tarde do mesmo dia que a mulher se terá sentido mal, tendo sido transportada para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e, depois, para a Maternidade Daniel de Matos, na mesma cidade. Aos bombeiros que a transportaram, Inês C., adianta o MP, não referiu a ocorrência do parto, alegando que tinha sofrido “uma perda sanguínea anómala, em face do período menstrual que havia estado ausente”.
O bebé acabaria por ser encontrado no mesmo dia, pelas 18.30 horas, no interior do caixote do lixo, já sem vida. De acordo com a acusação, o recém-nascido permaneceu no contentor, com vida, pelo menos durante quatro horas, acabando por morrer por asfixia, uma vez que estava dentro de sacos de plástico fechados, que não permitiam que respirasse.
*com Lusa