Trio da elite de comunidade estrangeira do centro de Lisboa impunha à força produtos e fornecedores a compatriotas. Detidos por tentarem matar resistente.
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Três comerciantes no bairro da Mouraria, em Lisboa, naturais do subcontinente indiano, são suspeitos de, durante quatro meses, terem aterrorizado compatriotas de outras lojas ali abertas, por estes recusarem respeitar as regras comerciais e os fornecedores que queriam impor na comunidade. O objetivo seria expulsá-los daquela zona da cidade e manter o controle sobre os negócios. Numa ocasião, terão ido atrás das vítimas até ao Algarve.
Os homens, de 31, 32 e 36 anos e há vários anos a residir em Portugal, foram agora detidos pela Polícia Judiciária (PJ), indiciados, entre outros crimes, por tentativa de homicídio e ofensas à integridade física. Para já, foram identificadas cerca de dez vítimas, mas as autoridades temem que possam existir mais. Não estão excluídas novas detenções.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o trio faz parte da elite da comunidade de um país asiático, com grande presença residencial e comercial na Mouraria. Detentores, licitamente, de lojas de produtos alimentares, os suspeitos exigiriam, ilegalmente, que todos os compatriotas seguissem as regras comerciais impostas por si, desde a escolha dos fornecedores aos produtos vendidos.
Caso todos cumprissem, conseguiriam manter o poder na Mouraria e lucrar com isso. Só que acabaram por ser desafiados e responderam com ameaças, coações, roubos e agressões.
Em comunicado, a PJ adianta que o "modus operandi" do trio "passava por inibir, muitas vezes com recurso à violência física, a liberdade individual das vítimas e a prossecução das atividades comerciais". Os crimes foram praticados entre setembro de 2019 e janeiro de 2020, em Lisboa e Faro.
Ao que o JN apurou, a viagem ao Algarve ter-se-á destinado a fazer uma espera a um grupo em fuga de Lisboa. Muitas das vítimas já terão, de resto, abandonado Portugal entretanto.
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Buscas domiciliárias
Os inspetores apreenderam, em buscas às casas dos suspeitos, vários "instrumentos" usados pelos agressores na prática dos crimes em causa.
Denúncia na origem
O clima de terror chegou ao conhecimento da PJ graças à denúncia de uma das vítimas. A investigação durava há mais de um ano.