Joceline temia que ex-companheiro levasse as filhas para a Bélgica à sua revelia e levou uma delas para a morte.
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O medo que Joceline Brazão tinha de perder as filhas para o ex-companheiro, a morar na Bélgica e recentemente casado, levou a cabo-verdiana de 29 anos a imolar-se com uma menina de três anos dentro do carro, na segunda-feira, em Porto Covo, Sines. A mais velha, de nove anos, também lá estava mas conseguiu fugir, encharcada em gasolina.
A tragédia aconteceu faltava um quarto de hora para a meia-noite, no centro da vila alentejana, no cruzamento da Avenida do Mar com a Rua Conde Bandeira. Joceline estacionou o Opel Corsa e simulou uma brincadeira com as filhas. Regou o carro e elas próprias com gasolina no carro e acendeu um isqueiro. Jane, a mais nova, estava ao seu colo, mas a mais velha abriu a porta de trás e fugiu.
duas explosões
A rua estava deserta, mas o som de duas explosões fez Anabela Gonçalves sair à rua. A moradora deparou-se com o carro já tomado pelas chamas. "Um senhor ainda tentou partir o vidro para as tirar, mas o calor era imenso e teve de sair dali", conta, ao JN. Só mais tarde teve noção do que acabara de presenciar. "Pensava que fosse um curto circuito, nunca uma tragédia como esta", desabafa.
A menina mais velha fugiu para um restaurante nas imediações, onde foi acolhida até à chegada das autoridades. Não apresentava ferimentos, mas estava em choque.
Joceline vivia com a mãe, uma irmã e as filhas na Barbuda, um bairro clandestino. Trabalhava na Santa Casa da Misericórdia de Sines e as meninas frequentavam a escola básica. No sábado, o seu ex- companheiro, com quem morou na Bélgica até há dois anos, veio visitar as filhas. O combinado era que ele as entregasse no domingo, mas as crianças pediram para ficar mais um dia com o pai, que as levaria à escola na segunda-feira. Joceline não quis. Disse que as meninas tinham que ser penteadas para ir à escola. Mas o que ela temia era que o ex-companheiro as levasse para a Bélgica, onde nasceram e cresceram. Por isso, a mulher terá decidido matar-se com as meninas.
Pelas 21 horas, saiu com as meninas e disse que iam passear de carro. A mãe de Joceline estranhou a ausência da filha e alertou a GNR. A filha estava perturbada e tinha deixado o telemóvel em casa.
Quase três horas depois, em Porto Covo, a 20 quilómetros, as autoridades chamadas para o carro que ardia viram que se tratava da viatura de Joceline, que procuravam. No banco da frente jaziam os corpos carbonizados de mãe e filha.
A notícia deixou o bairro em choque. "Nada disto era previsível. As meninas eram bem integradas, não lhes faltava nada, estavam felizes, mas a Joceline estava cada vez mais perturbada, notava que andava cabisbaixa sempre que o pai das meninas as vinha ver", conta Fernando Santos, amigo da família. A Polícia Judiciária de Setúbal investigou o caso e já contactou o pai das crianças.