Cerca de cinco mil timorenses foram aliciados, este ano, com promessas de emprego, alojamento e legalização, a troco de três a quatro mil euros. Muitos foram abandonados e estão sem abrigo.
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As autoridades estão preocupadas com o recente fenómeno. Nos anos anteriores, havia uma média de 500 a mil timorenses que entravam em Portugal à procura de uma vida melhor. Desde janeiro, já foram registados cerca de cinco mil. E tudo aponta para que sejam vítimas de redes criminosas de tráfico de pessoas para exploração laboral, a quem pagaram entre três e quatro mil euros, com promessas de emprego, alojamento e legalização. Muitos deles já são sem-abrigo e o SEF tem uma dezena de investigações em curso sobre este êxodo timorense.
São mais de 550 cidadãos timorenses que, ao abrigo da isenção de visto, chegam todos os meses a território nacional. O fluxo anormal de imigração e as centenas de casos de abandono reportados em todo o país, como no Fundão ou Serpa, levaram as autoridades a abrir investigações por suspeitas de tráfico de pessoas para exploração laboral.
Na mira das autoridades estão empresas portuguesas, detidas por cidadãos indostânicos, que aproveitam acordos de isenção de vistos entre Timor e o nosso país. São firmas de trabalho temporário que oferecem mão de obra para serviços sazonais na agricultura.
Segundo informações recolhidas pelo JN, os timorenses são abordados no seu país pelas redes criminosas. É-lhes proposto um pacote para vir para Portugal. Mediante o pagamento de três ou quatro mil euros (um valor elevado para Timor), garantem-lhes viagem, contrato de trabalho, alojamento e alimentação. Aliciadas pelas condições, as vítimas arranjam o dinheiro e entregam as suas vidas às redes. Estas, para ganharem a confiança das vítimas, fornecem cópias de contrato de trabalho ou termos de responsabilidade assinados por outros timorenses que já residem em Portugal. Depois são trazidos em grupos de dezenas de indivíduos.
Chegados a território nacional, deparam-se com condições de trabalho muito penosas, alojamentos que são, muitas vezes, insalubres e salários reduzidos. São muitos os relatos de vítimas que não aguentaram as condições e foram abandonados à sua sorte pelas empresas de trabalho temporário.
Ainda segundo apurou o JN, o "modus operandi" das redes suspeitas já foi identificado nas investigações que estão atualmente a cargo do SEF. Às autoridades chegaram dezenas de relatos de incumprimento de promessas e situações que configuram crimes de tráfico de seres humanos e exploração. Os inquéritos, abertos de norte a sul do país, estão agora à procura de elementos de prova para consolidar as suspeitas da existência de redes criminosas que promovem o êxodo de timorenses para Portugal.
O Reino Unido como destino final
Além do exponencial fluxo migratório para Portugal, as autoridades registaram outro fenómeno. Depois de abandonados pelas redes que lhes prometeram um eldorado, muitos timorenses procuram chegar ao Reino Unido. A isenção de vistos que lhes permite entrar na Europa por períodos de 90 dias é aproveitada pelas vítimas para viajar para países europeus mais ricos que Portugal. O objetivo é chegar a Inglaterra, que, não integrando já o Espaço Schengen, tem registado a entrada de muitos timorenses.