Três antigos médicos do Centro de Saúde de Mirandela e do hospital local foram acusados pelo Ministério Público (MP) de um crime de homicídio por negligência, pela morte de uma idosa que sofreria de uma insuficiência cardíaca que não terão detetado.
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O caso remonta a 2015. Segundo a acusação, a que o JN teve acesso, Maria Manuela Rosa foi atendida, em apenas dois meses, por cinco vezes no Centro de Saúde de Mirandela I e por uma no hospital da cidade, exibindo um quadro clínico progressivamente mais grave.
Na primeira consulta no Centro de Saúde, a 24 de agosto, a idosa queixou-se de "uma sensação de pressão/aperto atribuído", tendo sido assistida, segundo o MP, por Pedro Mendes, 53 anos, um dos três médicos acusados. O clínico pediu um eletrocardiograma.
Já a 7 de setembro, o mesmo médico solicitou, numa segunda consulta, um raio-X ao tórax para tentar perceber a origem da tosse da idosa. Receitou-lhe, em seguida, dois medicamentos. Dois dias depois, a idosa regressou à unidade de saúde com sintomas similares.
Um outro clínico, José Clemente, de 54 anos e também acusado, prescreveu-lhe então outros dois medicamentos. A 17 de setembro, Pedro Mendes voltou a contactar Maria Manuela Rosa. No dia 20 do mês seguinte, o médico atendeu a mulher uma quarta vez. A paciente apresentava então, além de tosse, dificuldades respiratórias.
diagnóstico só no porto
Sem sentir melhorias no seu estado de saúde, Maria Manuela Rosa deslocou-se, a 26 de outubro, às urgências do Hospital de Mirandela, onde foi assistida pelo terceiro arguido, Marcial Fernandez, de 64 anos. Diagnosticou à idosa uma bronquite aguda, medicou-a e deu-lhe alta três horas mais tarde. Mas a sua condição não melhorou.
Dois dias depois, Maria Manuela Rosa viajou, por isso, até ao Porto, para se encontrar com as filhas, que, "ao verificarem o débil estado de saúde da mãe", chamaram o INEM. A idosa foi então transferida para o Hospital de Santo António, onde os médicos concluíram, com base no seu histórico e em novos exames, que sofria de uma insuficiência cardíaca desde maio de 2015, que se agravara no mês anterior, associada a uma gripe. Morreu a 15 de dezembro de 2015, após um mês e meio internada.
Para o MP, os arguidos deveriam, dado o historial da paciente, ter pedido exames complementares ou encaminhado a idosa para outras unidades. Alega, por isso, que Mendes, Clemente e Fernandez "contribuíram" para o "agravamento" do estado de saúde de Maria Manuela, "ao ponto de ser irreversível a sua recuperação".
Caso no mesmo hospital acaba com absolvição em abril
Em abril último, um médico do hospital de Mirandela foi absolvido da acusação de homicídio por negligência pelo facto de não se ter estabelecido, em julgamento, uma relação de causa e efeito entre a morte de uma paciente, de 69 anos, e um mau diagnóstico. Em causa estava também um problema cardíaco não detetado, numa situação ocorrida em 2015. A mulher morreu com um enfarte do miocárdio. Mesmo assim, o tribunal deu como provado que o médico não agiu segundo as boas práticas, quando deu alta a Maria Elisa Braz.
Pormenores
Meios ao dispor - O Ministério Público alega que os médicos dispunham, em Mirandela, dos equipamentos necessários para realizar exames que dissipassem dúvidas quanto a um problema cardíaco.
Saíram de Mirandela - Nenhum dos três arguidos está, atualmente, a exercer funções em Mirandela. Pedro Mendes trabalha em Macedo de Cavaleiros, José Clemente em Bragança, e Marcial Fernandez em Vigo, Espanha.
Pena de até três anos - O crime de homicídio por negligência é punível, segundo o Código Penal, com pena de multa ou de até três anos de cadeia.