Comandante dos bombeiros diz que só "por milagre" não aconteceram explosões em prédio na Parede, concelho de Cascais. Furtados canos e contadores.
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No espaço de hora e meia na noite da passada segunda-feira, três prédios com mais de dez andares, na Parede, Cascais, foram alvo de furtos de contadores e tubagens de gás em cobre, obrigando à evacuação de centenas de moradores por perigo de explosão. O comandante dos bombeiros, Pedro Araújo, não tem dúvidas de que "só por milagre" não houve uma tragédia, pois "nenhum morador acendeu uma luz ou um isqueiro".
Os furtos ocorreram entre as 20.26 e as 21.43 horas num raio de um quilómetro, no centro da Parede, e obrigaram à retirada de 250 moradores das suas casas. A Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa está a investigar e suspeita-se que tenha sido o mesmo grupo de assaltantes. Este foi o segundo assalto do género no espaço de uma semana, na mesma zona. De um prédio com sete pisos os ladrões levaram também a canalização do gás.
Em cobre e fácil de retirar (basta abanar o tubo para ele partir) a canalização de gás tornou-se apetecível para assaltantes que vendem o metal posteriormente em sucatas. Apesar do seu baixo valor, os contadores também rendem dinheiro, pois alguns dos seus componentes são transacionados no mercado negro de componentes para o fabrico de relógio.
O primeiro assalto aconteceu na Praceta Natália Correia. Cerca de uma dezena de tubos de cobre foram levados num ápice. Quando um morador no segundo andar do número 162 ouviu movimentos estranhos no átrio do prédio e saiu para ver o que se passava, já se deparou com o cheiro a gás e a tubagem de um contador ainda a abanar.
"Estava a jantar e bateram à minha porta a relatar que havia uma fuga de gás. Saí com a minha esposa para a rua, alertámos todos os moradores porta a porta e foram chamados os bombeiros", refere José Neves, vizinho e administrador deste prédio, enquanto mostra ao JN os danos causados.
Neste prédio, foram retiradas 40 pessoas das suas habitações e só puderam regressar a casa ao fim de duas horas, depois de os bombeiros "fecharem a conduta que fornece o prédio, verificarem as instalações piso a piso com a equipa de piquete do gás e garantirem as condições de segurança através da ventilação e dissipação do gás", explica Pedro Araújo.
Depois, os assaltantes entraram no lote 5 da Avenida dos Maristas, a cerca de 500 metros, um prédio com 13 andares. Nada furtaram porque tentaram no rés do chão e provocaram logo uma fuga de gás, levando-os a fugir. O alerta foi dado às 20.16 horas e 90 moradores foram evacuados.
O terceiro e último alvo dos assaltantes foi um prédio com dez andares na Rua do Tejo, a 300 metros do anterior. Apenas dois pisos não ficaram sem contadores e tubagem de cobre. Este edifício tem gás natural e canalizado, pelo que os assaltantes levaram também as roscas que fecham o circuito do gás canalizado.
O alerta foi dado às 21.43 horas e deste prédio saíram 120 habitantes. Rapidamente chegaram os bombeiros e procederam ao corte do gás, evacuação do prédio e verificação da segurança para a reentrada dos moradores. Estiveram envolvidos nestas operações 18 veículos dos bombeiros da Parede com 38 operacionais. Não houve feridos nem assistidos no local. Os moradores afirmam que devem voltar a ter gás em casa a partir desta quarta feira.
Testemunho
"Vizinho que deu o alerta e sentiu-se mal com o cheiro a gás"
Anabela Lima, 73 anos, mora há décadas no número 162 da Rua do Tejo, onde os assaltantes levaram dezenas de contadores e tubagens em cobre de gás. "Um vizinho do oitavo andar que ia levar o cão à rua deu o alerta e até se sentiu mal com o forte cheiro. Se não fosse ele, não sei o que podia acontecer", conta ao JN.
Anabela reside no primeiro andar e não saiu para a rua, mas a filha e o genro sim. "Assustei-me quando vi o carro de bombeiros a entrar na praceta e os bombeiros a correr para o prédio, não sabia o que estava a acontecer", adianta.
Ninguém no prédio, ao que sabe Anabela, viu movimentos suspeitos. A moradora espera voltar a ter gás esta quarta-feira.