Chinês residente em Lisboa é suspeito de ter montado esquema para fugir ao Fisco. Dinheiro obtido com lojas e restaurantes.
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Um cidadão chinês de 30 anos, residente na região de Lisboa, é suspeito de, desde 2018, ter recorrido a "mulas de dinheiro", primeiro, e a sociedades fictícias criadas com identidades falsas, depois, para fazer chegar, à margem do Fisco, milhões de euros à China. Os rendimentos seriam obtidos na área do comércio e da restauração.
O homem, casado com a proprietária de uma loja de produtos diversos, foi agora detido pela Polícia Judiciária (PJ) e ficou, por decisão do tribunal, a aguardar o desenrolar do processo em prisão preventiva. Está indiciado por um crime de falsificação ou contrafação de documento, punível com multa de até 600 dias ou de até cinco anos de cadeia.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o arguido recolheria o dinheiro em vários estabelecimentos geridos por cidadãos chineses, com o objetivo de o enviar para o país natal. Inicialmente, terá recorrido a "mulas de dinheiro" que partiam do aeroporto de Lisboa, mas a operação sofreu, em 2018, um revés: duas mulheres foram então apanhadas pelas autoridades a sair da capital para a China com um milhão de euros em notas.
O procedimento ter-se-á mantido ainda durante 2019, ano em que o suspeito decidiu mudar o seu modo de atuação. Terá sido então que passou a recorrer a identidades falsas para criar sociedades fictícias, com contas bancárias associadas. As restrições de circulação causadas, em 2020, pela pandemia de covid-19 terão igualmente contribuído para reforçar o recurso a este método. O valor creditado em numerário nas contas terá, apurou o JN, chegado a a ultrapassar 2,7 milhões de euros.
Notas em arca frigorífica
Em comunicado, a PJ adianta que foram descobertos em casa do arguido mais de 400 mil euros em numerário, "dissimulado e acondicionado em diferentes partes" da habitação. Uma parte, sabe o JN, estava dentro de uma arca frigorífica. Nas buscas, foram também encontrados "passaportes falsos", alguns dos quais com a fotografia do suspeito.
"O arguido procedeu à constituição de sociedades e à abertura de várias contas bancárias, tituladas por estas. Para tal e de forma a dissimular a sua identidade, recorreu a documentação falsa, mormente passaportes, contendo nomes falsos e apostas fotografias suas, diferentes entre si", descreve a instituição, sem especificar a nacionalidade do suspeito. Estas contas foram agora congeladas, apesar de, ao que o JN apurou, terem atualmente depositadas baixas quantias de dinheiro.
"A investigação continua para o apuramento de todos os factos", conclui, no comunicado, a PJ.
Segundo informações recolhidas pelo JN, as autoridades desconfiam que o cidadão agora detido tenha organizado a partida do país de sete outros chineses que, em 2019, foram apanhados com três milhões de euros guardados em malas no aeroporto de Lisboa.
Prevenção
730 movimentos bancários
São enviados todos os meses à Unidade de Informação Financeira da PJ para análise, por suspeita de branqueamento ou financiamento de terrorismo, 730 movimentos bancários.
Verificar identidade
A atual legislação estabelece que os bancos devem verificar a identidade dos clientes "em transações ocasionais de montante igual ou superior a 15 mil euros", numa só operação ou em várias relacionadas.
Analisar operações
Segundo a lei, todas as transferências de mais de mil euros podem ser escrutinadas. Os bancos devem estar também atentos a operações consideradas atípicas.