Ana Maria Melo, 56 anos, morta a tiro pelo ex-marido, em Lalim, Lamego, não chegou a acionar o botão de pânico de que dispunha para se defender do homicida, e uma semana antes tinha dito que não antevia problemas.
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Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, a entidade que controla os dispositivos de teleassistência a vítimas de violência doméstica, confirmou ao JN que não foi recebido qualquer alerta da mulher, que estava a ser acompanhada.
Henrique Carvalho, 62 anos, está em fuga desde as 8.30 horas de sábado, momento em que assassinou Ana Maria com vários tiros, quando esta seguia a pé para o trabalho acompanhada de uma amiga, que também foi baleada mas já teve alta hospitalar. Não aceitou a separação. Desconhecem-se ainda as razões pelas quais a vítima não acionou o botão de pânico. Se foi porque não teve tempo de o fazer ou porque não tinha rede no local onde foi atacada, como atestam alguns moradores da zona. A medida de defesa tinha sido atribuída na sequência de um processo judicial por violência doméstica que foi suspenso com o seu acordo.
Relatório em curso
Ao JN, Francisco George explicou que a vítima "estava sinalizada e dispunha do sistema de teleassistência". Trata-se de um "pequeno dispositivo, tipo porta-chaves, que está sempre à mão, ao pescoço, na mala, no bolso, e pode ser acionado quando o utente entender", explica o responsável.
Todas as semanas, a Cruz Vermelha avalia a situação. "Foi o que aconteceu a Ana Maria. A última conversa gravada foi uma semana antes do assassinato. A 7 de agosto, a vítima disse que estava tudo bem e que não antevia problemas. No próprio dia do crime, não acionou o dispositivo", revela Francisco George, acrescentando que está a ser finalizado o relatório que deverá ser, ainda hoje, entregue na Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, entidade que coordena a assistência a vítimas de violência doméstica.
Em Lalim e nas redondezas, continua a caça ao homem. Henrique Carvalho, que não tinha ocupação profissional há anos, "teve tempo para planear o crime", comenta quem o conhecia, garantindo também que "conhece muito bem" a área de mato e bosque à volta da localidade e "teve muito onde se esconder".
Ontem, as autoridades, sob a coordenação da Polícia Judiciária, começaram a alargar o perímetro das buscas, com a GNR. Na vila teme-se o seu regresso.
Pormenores
População assustada
Henrique Carvalho tinha uma má relação com a família, especialmente com o filho mais velho. A população receia que volte a matar e vive assustada
Divórcio surpreendeu
O casal estava divorciado há cerca de meio ano e a separação surpreendeu os vizinhos.
Contacto semanal
A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) contacta com as pessoas sinalizadas e em regime de teleassistência. A última avaliação foi feita uma semana antes do crime, segundo Francisco George, presidente da CVP.