Mulheres contratadas só para legalizar imigrantes da Índia, Bangladesh e Paquistão eram sequestradas se não mantivessem matrimónio por cinco anos.
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A Polícia Judiciária (PJ) deteve uma mulher e dois homens suspeitos de pertencerem a uma rede internacional de auxílio à imigração ilegal através de casamentos de conveniência. Dezenas de mulheres, em estado vulnerável, terão participado no esquema. Muitas só descobriam depois que ficavam "reféns" da união por cinco anos, até à legalização dos maridos. Se não colaboravam, eram coagidas, sequestradas e até agredidas.
Ao que o JN apurou, as mulheres, de baixa condição económica e social, eram atraídas com a perspetiva de dinheiro fácil. Depois, eram levadas para outros países europeus onde eram casadas com imigrantes, maioritariamente da Índia, Bangladesh e Paquistão.
Tinha de durar 5 anos
De regresso a Portugal, transcreviam o casamento na Conservatória. Aí descobriam que teriam de ficar casadas mais cinco anos, até que o marido ganhasse cidadania. Ao longo desse tempo, prestavam provas de residência e falseavam declarações para entregar no SEF.
Muitas das mulheres, que tinham entretanto refeito a vida, inclusive tido filhos, só depois se apercebiam de que ainda estavam "presas". Caso deixassem de colaborar, a organização estava disposta a tudo - coagir, agredir, sequestrar e até ameaçar familiares - para forçá-las a continuar com a a farsa.
A investigação da Unidade Nacional Contra-Terrorismo da PJ durava há mais de dois anos e as detenções precipitaram-se quando, esta semana, a mentora do esquema veio a Portugal para obrigar uma das esposas a praticar um ato ilícito.
Preocupados com a integridade física da mulher, até pelo historial violento da organização, os inspetores decidiram agir e detiveram a mentora bem como dois outros homens que tinham casado com portuguesas e que já tinham praticado atos de violência com elas. Ficaram todos em prisão preventiva.
Apesar das detenções, a investigação da PJ prossegue, tal como a identificação de mais mulheres que possam ter caído no esquema.