Comerciante de Almada ficava com ouro e joias furtados. Está acusado de associação criminosa, tal como ladrões de Leste.
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Um ourives, com loja situada na Charneca de Caparica, em Almada, foi acusado de dar todo o apoio necessário a quatro elementos da máfia albanesa que se deslocaram a Portugal apenas para assaltar residências de luxo da Grande Lisboa. O comerciante despachava o ouro e joias furtadas no mercado negro, mas também arrendou casa que serviu de guarida aos ladrões, além de lhes alugar carros, para que os albaneses pudessem "trabalhar".
O português, atualmente em liberdade, e os quatro albaneses, dois deles presos e outros dois em parte incerta, foram acusados de duas dezenas de crimes de associação criminosa, furto, recetação, posse de arma ilegal e falsificação de documento.
De acordo com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), o grupo de albaneses era especialista em assaltos a residências. Pertence a uma organização criminosa com tentáculos em toda a Europa e deslocou-se a Portugal para, durante uns meses, saquear moradias de luxo, localizadas em sítios discretos, afastadas dos grandes centros urbanos.
Conhecido no meio
"Na verdade, há muito que grupos de indivíduos de nacionalidade albanesa têm procurado Portugal para cometer ilícitos criminais, sendo através do passa a palavra que alguns deles souberam da existência do arguido [ourives] conhecido no meio por aceitar, sem questionar, objetos [furtados]", garante o DCIAP.
Jorge Manuel A., 57 anos, morador em Almada, escoava assim o produto dos furtos dos albaneses, mas também os apoiava na logística criminal.
Para evitar que os nomes dos mafiosos aparecessem nos contratos, o ourives alugou vários carros que permitiram ao grupo deslocar-se e vigiar as residências que iam assaltar. Também firmou contratos de arrendamento de casas, onde os assaltantes pernoitavam, na Cova da Piedade e na Rua Pinheiro Chagas, na Charneca de Caparica.
Provas contra ourives
Quando o grupo foi desmantelado pela PSP, em março do ano passado, as buscas domiciliárias permitiram encontrar na casa e loja do ourives dezenas de relógios, anéis e joias, além de luvas, gorros, golas coletes e walkie-talkies, usados pelos albaneses. Na garagem da habitação, o comerciante também tinha auriculares, telemóveis, lanternas e ferramentas.
O primeiro assalto imputado ao grupo foi cometido em novembro de 2021, numa residência de Alcácer do Sal, de onde levaram um Mercedes A180. O veículo viria a servir para perpetrar outros assaltos.
O segundo furto aconteceu na luxuosa Herdade da Aroeira, na Charneca. Lá, entre uma caneta de marca Mont Blanc e dinheiro, lucraram 8500 euros.
A seguir realizaram assaltos perto do Clube de Campo e Vale de Lobo, em Belas, Sintra. Também nos concelhos de Mafra, Torres Vedras e na Ericeira. Ainda se deslocaram ao Algarve, próximo das zonas do Vale do Lobo, The Village e Vila Sol para realizar vigilâncias e preparar os alvos.
Em Brejos de Azeitão, numa única residência, levaram inúmeros relógios de marca Rolex e Breitling, avaliados numa dezena de milhares de euros.
Em algumas residências, os ladrões encontravam chaves de veículos de marca BMW e Mercedes que também roubaram para os utilizar durante uns dias, trocando-lhes as matrículas.